Não se faz o poema sem os compassos de um ritual. Meditar acerca da validade de uma ideia, explorar motivos, pesar emoções, procurar as palavras e arrumá-las numa ordem que se submeta à luz e ao rigor; torná-las um lugar privilegiado dos sentidos, uma voz por onde ecoam os alaridos ocultos do mundo e da vida, tudo isto se resume à gramática de um ritual. Também não se cultiva o amor, sem a coreografia de um ritual. Certas ações, abençoadas pelo hálito da gratuidade, certas expressões de um íntimo e gracioso idioleto, certas carícias e certos mimos que oscilam entre o corpo e a alma; a cupidez, o silêncio, a fúria, a entrega, o perdão, tudo me parece uma nomenclatura de um sagrado ritual. Não existe cultura sem ritual. Sem ritual, não existe a linguagem. O ritual me diz que o homem é mais, muito mais, que um animal ou um bicho triste.