Nunca aprendi a somar 2 + 2 para ser 4. Não sei a aritmética dos números, mesmo intuindo uma translúcida poesia nas regiões geométricas da matemática. As operações sempre me assustaram. Dividir, multiplicar, subtrair nunca me deram certeza de nada. O logos me pune e me maltrata. Só o devaneio parece dar conta de meu pequeno território de sabedoria. Adoro calcular o dorso do imaginário. Fazer das nuvens que passam equações enigmáticas onde o pensamento
dança, e a memória se veste de cores indecisas, para jogar o passado dentro da tela móvel do presente. Tenho fome das coisas que não conheço, dos deuses ignorados, das santas diabólicas, dos mártires ancestrais, da anomia dos estados primários. Amo os poemas que leio e releio, porque são perfeitos e incompletos, as narrativas que continuam depois de terminadas. Sou um escafandrista do inominável e um antigo escravo de tudo que é belo e delicado. Só sei calcular o que se perde. O frágil, o miúdo, o solerte, o inclassificável, o invisível. Enfim, eu não calculo. Não vivo de dados. Eu penso, eu imagino, eu sonho. E amo.
