O verbo ignorar me parece essencial. Não sou apenas aquilo que conheço. Aliás, o pouco que conheço já me faz tanto, embora nunca me complete. No entanto, sou muito aquilo que ignoro. Creio que existe certa salubridade espiritual na ignorância. Certos sinais de aprendizagem e descoberta. Certa esperança que pode se converter numa experiência de felicidade. Por isto, sinto que preciso ignorar. Ignorar, sem medo, sem ansiedade, sem expectativas. Ignorar,
por exemplo, o desejo de saber quem sou, o desejo de saber quem é o outro, seus pensamentos, emoções, vontade. Ignorar certas atitudes, certas informações, certos dados, certos números, estatísticas, projetos, políticas. A ignorância, em certo sentido, me protege, me disciplina, me educa. Leva-me para outros lugares, me dá lições de humildade e compaixão. Por isto adoro, quando Clarice Lispector me diz que toda sabedoria é limitada. Infinita mesma é a ignorância.
