Não aceito o meu corpo reduzido ao limite da facticidade. Não sou um animal asfixiado pelas fibras fisiológicas. Sinto que meu corpo, estando em situação como qualquer coisa viva, move-se na pauta dos desejos, assume a direção dos estratos anímicos, humaniza-se na clareira da espiritualidade. Meu corpo é feito de narrativas e de apelos transcendentes. Sofre e se alegra com a sintaxe da existência, nos seus vocativos inadiáveis e nos seus desfechos inconclusos. Sei que meu corpo não é somente carne, ossos, vísceras, miasmas. Há ritos e cerimônias no meu corpo. Pulsa, nele, uma energia ancestral e cósmica que o aprimora e o purifica. Meu corpo é um acontecimento. Meu corpo se recusa à tirania da obscenidade. Não sou nada sem o meu corpo. Meu corpo sou eu. Eu sou o meu corpo. Pasto de aprendizagem, descoberta, poesia.