Archidy Picado Filho
Conversava agora há pouco com um novo amigo crente, pastor cristão auto desgarrado de sua função por seu senso crítico, que lhe fez ver não estar sendo coerente com os que se dizem cristãos por ter caído em tentações.
Por uma questão de autocrítica apurada – e até mesmo por certa dose de honra, algo pouco cultuado hoje em dia – agora ele é motorista de seu UBER, meu vizinho dos quartos da pousada onde moramos.
Numa breve mas substancial conversa, começamos e terminamos por divagar sobre as razões, e a falta dela, dos que, ao modo dos que creem em fadas (porque é preciso que se creia nelas para que existam), creem em espíritos, bons e maus, almas as quais, fora de seus corpos animados, querem penetrar em corpos (ou mentes) alheios (sem que aqui haja nenhuma alusão ao ato sexual); vestidos das roupas com as quais seus artistas os vestem; de acordo com as perspectivas que deram o amontoado da herança genética e cultural, cultural e genética, de tudo o que fomos e ainda seremos enquanto “artefatos” do que prefiro chamar de “Vida”, comumente reconhecida enquanto “Deus”. Entre pretensos cristãos, um e apenas um no meio de tantos expressos por seus inspirados representantes ao longo dos milênios de descobertas e invenções; todas realizadas pela necessidade, e por um tanto de medo associado com a imaginação.
E a imaginação foi e vai longe, embora ainda não tanto quanto deve ir levada por seu poder infinito, tendo ainda muito o que objetivar ou, como querem deístas e astrofísicos (!), fazer primeiro explodir Luz; como tudo que esteve, é e vier a estar presente na existência em suas múltiplas dimensões ou, como quer a moda, no “multiverso” onde tudo está metido; inclusive nós.
Entre tudo o que conversamos, baseados no que ele crê ter sido verdade do que foi contado na Bíblia desde o Gênesis (e surpreendentemente também nos possessores da Umbanda), disse-lhe minha opinião sobre o que considero ser (ou ter passado a ser) “Deus” e “eus”, título de um livreto que publiquei há alguns anos e onde digo o que apreendi sobre essa conscientização do que chamo de “dimensão-Deus” e nossas relações com ela.
Minha conclusão, naturalmente baseada na Lógica que “Deus” nos deu o poder de desenvolver (ou será que foram os (d)efeitos remanescentes dos Frutos do Conhecimento do Bem e do Mal, proibidos de serem degustados no Éden, ainda atuando nas mentes?), minha conclusão é que somos, tudo e todos, filhos e filhas do absurdo.
Porque...
Pense comigo sobre a origem de tudo, inclusive e principalmente dos nós que nos ataram aqui: só há três possibilidades à existência do que existe: ou tudo veio do nada (uma absurdo, já que não existe o nada como originador de coisa alguma) ou sempre existiu (outro absurdo, já que é preciso haver um princípio pra tudo, mesmo que não haja um fim); ou, ainda, que um ou mais deuses criaram tudo (absurdo, já que deuses e deusas estão em todas as culturas, embora falem fundamentalmente sobre a mesma... “Coisa”), segundo a Lógica, não sendo sensato imaginar ser verdade a existência de deuses e seus auxiliares espíritos ontológicos às suas origens culturais, já que, ao contrário do que se crê, foram todos feitos à imagem e semelhança dos homens.
De tudo o que aprendi sobre “Deus”, aprendi que “Ele” não é qualquer nome; e que não é necessariamente “Ele”, já que a Vida, e tudo o que foi, é e é capaz de fazer existir existe antes de ter-se lhe dado um nome.
Entre tudo o que apreendi ser “Deus”, em relação aos mundos que desenvolvemos sobre a Terra – e, principalmente, ao que ainda podemos produzir; e mesmo um “Reino dos Céus”, como queria Jesus Cristo – não é sensato pretender ser divino, sendo ser humano, segundo exemplos históricos de Humanidade (e de suas dificuldades de realização entre tanta desumanidade expressa), os exemplos das vidas dadas pelos que foram mesmo um tanto “além do humano” pra provar (no sentido de degustar) e demonstrar do que sentiam e sabiam; entre tudo o que apreendi de “Deus” e do valor da conquista da divindade, ou da santidade, portanto, ser o mais humano possível neste mundo cão é o melhor que talvez todos possamos (e devemos querer) fazer enquanto estamos vivos.
Porque creia: não há melhor herança pra deixar à Humanidade do que exemplos em atuações ao seu desenvolvimento.
Mesmo que, aqui e ali, corramos o risco de deixar escapar um tanto de nossa prisioneira besta-fera.
Feliz natal.
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