Por Belarmino Mariano
Como afirma Caetano Veloso, “alguma coisa estar fora da ordem, fora da nova ordem mundial”. Parece que a maior economia do neoliberalismo e do livre mercado dos últimos dois séculos, os Estados Unidos e seu dólar que controlavam tudo, desde o final da Segunda Guerra Mundial e durante a Guerra Fria perderam completamente a noção do perigo e flertam abertamente com o fascismo e com a volta do expansionismo colonialista através da força.
Muita coisa já mudou, depois dos anos de 1989, com a derrubada do Muro de Berlim e em seguida, com a derrocada do Bloco Soviético o dólar ficou mais forte ainda e a economia se globalizou. 30 anos depois, com o fortalecimento da União Europeia, China, Rússia, países emergentes no Sudeste Asiático, América Latina, e com as novas tecnologias da Madi In China, as coisas mudaram radicalmente e a correlação de forças não pode mais ser medida através dos cabos de Guerras.
Os Estados Unidos só defendem o livre mercado quando estão no controle do processo, quando perdem espaço nas disputas neoliberais e passam a ameaçar seus concorrentes diretos, com taxações e impostos, travando uma verdadeira guerra comercial. Com o surgimento do BRICS e sua ampliação, criação de um banco próprio e adesão de novos membros e parceiros, muita coisa mudou no livre mercado. A maior delas é a desdolarização da economia internacional em diferentes países.
Estamos começando a acompanhar a quebra da hegemonia econômica dos Estados Unidos e Trump pegou essa bomba chiando, mas não sabe o que fazer. As famosas guerras para desestabilizar regiões não fazem mais o efeito esperado e sobretaxar mercadorias dos concorrentes poderá ser um tiro no próprio pé. Então a conversar agora é atacar seus próprios aliados e parceiros diretos, entre eles o Panamá, Canadá e até mesmo o pequeno Reino da Dinamarca e sua grande ilha da Groelândia.
Por outro lado, na contramão dessa política sugerida por Trump, a China acabou de zerar tarifas de importação para países em desenvolvimento com pouca participação no mercado internacional. Além de iniciar uma grande mobilização internacional junto ao BRICS para também zerar a Divida externa dos países africanos.
Isso abrirá o mercado chinês (uma das maiores economias no mundo) para produtos oriundos de países pobres. Um dos atos mais incríveis já vistos no mundo! O governo chinês não esconde a intenção por trás disso: Impulsionar o desenvolvimento econômico desses países e favorecer a divisão internacional do trabalho.
Vale lembrar que, faz bem pouco tempo, o Trump estava esbravejando contra o BRICS, ameaçando tarifar em 100% produtos de países do bloco para impedir o comércio com os EUA -- e há um boato de que ele também ameaçou nada menos do que tomar o Canadá e transformar em um estado norte-americano, caso o governo canadense não aceitasse suas imposições comerciais.
O movimento da China, com todo o seu poder econômico, dá uma ideia de como será o embate entre esses dois gigantes (China e EUA) nas próximas décadas, com os EUA aplicando a política da força, ameaçando e coagindo nações, enquanto a China oferece parceria, ajuda e respeito, focando em parcerias com países onde há grande necessidade de desenvolvimento econômico (e faz isso sem colonizá-los).
O PIB dos países do BRICS já ultrapassou o PIB do G-7 bloco de países mais ricos do mundo e o lançamento de uma moeda do BRICS acelera novas relações monetárias e cambiais internacionais que deixaram de ser feitas através do dólar. Isso irá baratear as mercadorias e aumentará os fluxos de negócios em todo o mundo.
Trump retornará a Casa Branca com "superpoderes", alguma coisa como governos totalitários do final do século XIX e as cinco primeiras décadas do século XX, pois nestas duas últimas décadas das eleições americanas, será o único presidente republicano a vencer eleições tanto no Colégio Eleitoral quanto no voto popular, além de ter feito maioria de goverdores em 37 dos 51 Estados americanos; maioria no Congresso Nacional (Deputados Federais e Senadores Federais); maioria dos Senadores estaduais e deputados estaduais, pois em alguns Estados existem assembléias bi-camerais e eleições de quarto anos, que conhecide com o pleito presidencial.
Donald Trump, com toda a sua arrogância e extremismo, conseguiu convencer os eleitores que se voltaria para as questões internas e falando contra as guerras, "menos guerra e mais paz", venceu as eleições com uma gigante folga em relação aos Democratas. Trump usou inclusive um verdadeiro arsenal de Fakes News, mas foi mais moderado nos ataques misóginos, racistas, antilatinos e anti-imigrantes em geral e prometeu que vai acabar com os conflitos na Ucrânia e em Israel em menos de um mês. Agora veremos até onde isso será verdade!?
Uma coisa é certa, os discursos de Trump foram todos de redução das ações externas do país e se voltar pra o fortalecimento do mercado interno. Mas para garantir isso, Trump também ameaçou taxar os produtos chineses em 60 ou até 100%. Mas também ameaçou taxar os produtos de outros países como Brasil, México, Canadá e até da Europa Ocidental.
Se Trump cumprir todas as suas ameaças, em especial a "Guerra comercial" e a taxação aos produtos estrangeiros, poderá estar ajudando a China e seus parceiros, pois taxar empresas em todo o mundo, abrirá novos mercados para os chineses. Essa será uma queda de braços que nos próximos quatro anos, poderá desestabilizar toda a economia global.
Se Trump cumprir sua agenda geopolítica de redução das interferências geopolíticas na Ucrânia, Coréias, Taiwan, Irã e outros países do Oriente Médio, mudam todos os cenários internacionais instáveis. Mas, suas novas declarações contra o Canadá e talvez a sua interferência na América Latina (Entenda como Venezuela e Brasil), novamente estará mexendo com interesses da China, Rússia, Irã e até do Brasil, México e outros.
Uma coisa é certa, o velho sonho Norte-americano de anexar a o Canadá, a Groelândia e até mesmo o Panamá é possível e está ao alcance de um governo que não tem compromissos com a história ou com os processos de autonomia das nações independentes. Digo isso de Trump, mas vale para qualquer um dos presidentes dos Estados Unidos, seja Democrata ou Republicano. O artigo que segue é uma análise de probabilidades geopolíticas em curto e médio prazo. Para tanto, destaco três pontos centrais da geopolítica do imperialismo Norte-americano, o “Destino Manifesto”; a “Doutrina Monroe” e o “Estado de Segurança Nacional dos Estados Unidos” e na atualidade o Canadá é o Urso da vez:
Quando olhamos geograficamente para o mapa do Canadá, até parece que as suas províncias ou Estados, foram divididos da mesma maneira que os Estados da Federação Norte-Americana. Claro que são bem menos, cerca de 13 unidades territoriais, como se estivessem na gênese desse processo de independência e formação dos Estados Unidos da América do Norte.
O Canadá é um país com gigantesco território e as regiões e províncias do Canada são suas bases territoriais e seguem o modelo britânico de monarquia constitucional: 1) Colúmbia Britânica; 2) Alberta; 3) Sascachevão; 4) Manitoba; 5) Ontário; 6) Quebec; 7) Novo Brunswick; 8) Ilha do Príncipe Eduardo; 9) Nova Escócia (as províncias 7, 8 e 9 se juntas dariam um Estado, pois são bem pequenas se comparadas com as demais); 10)Terra Nova e Labrador; 11)Yukon; 12) Territórios do Noroeste e; 13) Nunavut.
Parece até que na época da independência e expansão dos territórios dos Estados Unidos para além das 13 colónias do Atlântico, as montanhas congeladas do Canadá sempre estiveram ali como uma gigantesca fronteira natural e reserva futura, que em algum tempo, com base da “Destino Manifesto” algum presidente iria reclamar essa anexação.
Trump pretende anexar os territórios do Canadá e a Groelândia aos Estados Unidos. Incluídos também o território autônomo da Groelândia (Reino da Dinamarca), a maior ilha do mundo, com cerca de 2.166.000 km². Muitos analistas políticos estão se questionando sobre essa possibilidade geopolítica e parece que esquecem que o Canadá já é, até certo ponto, uma área completamente influenciada pelos Estados Unidos há décadas, pois desde o período de reabertura política do mundo e de formação dos Blocos Geoeconômicos, como a criação do Acordo de Livre Comercio do Atlântico Norte (Nafta), em 1994, que o Canadá e o México foram orbitados pela economia dos Estados Unidos. A própria moeda do Canadá é o dólar canadense.
Vale salientar que esse movimento foi articulado desde os primeiros anos de debates sobre o neoliberalismo (1986) e em 2020, o NAFTA foi substituído pelo Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA), que atualizou e revisou diversas disposições do tratado original. Mesmo assim, as pressões dos Estados Unidos contra os vizinhos são na linha do que Trump propôs recentemente.
A grande questão é sabermos se existe algum interesse do Canadá e do Reino da Dinamarca nesse processo de anexação e, se estes países possuem alguma força geopolítica capaz de resistir a pressão do grande império capitalista na atualidade? Não acredito que o governo dinamarquês tenha pretensões de vender ou aceitar a anexação do seu território da Groelândia e Islândia aos Estados Unidos, por isso, poderemos estar diante de uma nova tensão internacional, em que alguns, consideram como parte das estratégias dos Estados Unidos para um choque político e econômico global ou anti globalização.
Outro ponto a ser considerado nessa nova ordem geopolítica pretendida por Trump, que também já anunciou que os Estados Unidos deixaram de participar e financiar a Organização Tratado do Atlântico Norte (OTAN) que foi fundada pelos próprios Estados Unidos em 1949, sendo países fundadores da OTAN: Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Islândia, Itália, Luxemburgo, Holanda, Noruega, Portugal, Reino Unido e os Estados Unidos e, na atualidade conta com32 membros.
Para Trump manter os Estados Unidos na OTAN, teria um profundo choque de interesses entre os USA, Canadá, Reino da Dinamarca e até mesmo com o Reino Unido. Caso os Estados Unidos saiam da OTAN, seu atual proposito de anexação dos territórios vizinhos se justificariam e um novo contexto geopolítico estaria em jogo. Pois caso ocorresse algum tipo de resistência, o conflito seria visto como de escala regional, bem parecido com o que ocorre atualmente entre a Ucrânia e a Rússia e mesmo sob protestos internacionais, condenações na ONU, o poder de veto dos Estados Unidos seriam suficientes para a adoção dessa política conflituosa.
Se nos voltarmos para o período anterior ao início da 2ª Guerra Mundial, lembraremos que Hitler anexou a Áustria ao 3º Rich (1938) sem dificuldades, inclusive com o povo austríaco nas ruas dando vivas e recepcionando as tropas nazistas com bandeirinhas e festa. Para a Corte Internacional a anexação foi vista como uma violação internacional, mas garantiu o expansionismo nazista para as demais anexações como a Polônia e a deflagração da 2ª Guerra Mundial.
Para Trump anunciar intenções em anexar o Canadá ao território dos Estados Unidos, no mínimo o Reino Unido já fez algum tipo de acordo internacional e basta lembrar o quase que desastroso abandono do Reino Unido da União Europeia. Qual a base para tal afirmação? O Canadá é uma monarquia constitucional, com o rei Charles III como chefe de Estado.
Ou seja, o Canadá é um dos países que fazem parte da Commonwealth, grupo de países do antigo império britânico que têm o monarca britânico como chefe de Estado. E, apesar da autonomia política e da organização territorial como se fosse uma federação, em que as Provinciais possuem governos de Estado e autonomia política e jurídica, ao final das contas, o Estado canadense deve obediência ao Rei Charles III. Quem sabe o Reino Unido esteja querendo que isso aconteça em troca de algumas vantagens políticas e econômicas, diante de um país em crise e em decadência econômica e tecnológica e que ao sair da União Europeia ficou mais fragilizado ainda.
Como Ficariam os Estados Unidos com a Anexação do Canadá e da Groelândia?
A área territorial dos Estados Unidos, incluídas as terras continuas e descontinuam, insulares como o Havai e o Estado do Alaska ao Noroeste do Canadá é de 9.833.517 km², o que o coloca os USA na 4ª posição entre os maiores países do mundo.
A Groelândia, território pertencente ao Reino da Dinamarca, com cerca de 2.166.000 km², é a maior ilha do mundo e estrategicamente fica localizada no círculo polar ártico, em região de Fronteira com a Federação Russa. Uma área com cerca de 58 mil habitantes e muito rica em recursos minerais e energéticos além de urânio, “terras raras”, petróleo e gás natural. Vale salientar que os interesses dos Estados Unidos pela Groelândia remontam ao século XIX, mesmo período em que os Americanos compraram o Alaska do antigo império czarista Russo.
Os Estados Unidos possuem 51 territórios federados, com 13 do Canadá, mais a Groelândia passaria a compor 65 unidades federativas, sob o controle presidencialista e uma Constituição muito mais bem consolidada do que a confusa Monarquia Constitucional parlamentarista completamente refém do Reino Unido.
A área territorial do Canadá, incluídas as partes do continente e insulares, corresponde a 9.984.670 km². Essa extensão significa o segundo maior país do mundo, perdendo apenas para a Federação Russa, com 17.098.246 km². Se comparado com o continente europeu, o Canadá é territorialmente quase do tamanho da Europa Ocidental e Oriental que possui cerca de 10.530,000 km², considerando que, cerca de 3.960.000 km² já estão computados no território Russo na Europa Oriental.
Caso os planos do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump se concretizem a partir do dia 20 de janeiro de 2025, Os Estados Unidos poderiam passar a ter o maior território do mundo, ultrapassando os 21.984.187 km² e se aproximando do que foi o antigo território da Ex-União Soviética que até o final de 1991 era de aproximadamente 22.402.200 km2.
Esse seria a maior manobra geopolítica dos Estados Unidos dos últimos 200 anos e confirmaria as estratégias geopolíticas do Estado de Segurança Nacional e o “Destino Manifesto - em que acreditam e defendem que é vontade de Deus que os Estados Unidos governem o mundo a partir de todo o Continente Americano de Norte a Sul”.
A população estimada do Canadá em 2024 é de aproximadamente 39.742.430 (0,5% da população mundial) e o equivalente a uma média de 4,1 habitantes por km², em que, cerca de 84% dessa população vive em áreas urbanas e em províncias de fronteira com os Estados Unidos da América do Norte. Apenas quatro cidades do Canadá possuem mais de 1 milhão de habitantes e Toronto é a única cidade com mais de 2 milhões.
Para os Estados Unidos que possuem cerca de 335 milhões de habitantes (Nações Unidas, 2024), esse novo contingente demográfico não faria muita diferença, mas esse incremento aumentaria a população para cerca de 375 milhões de habitantes e seria possível deslocar milhões de Norte-americanos para as áreas despovoadas do Canadá, ampliando significativamente o potencial econômico dessas novas áreas.
Se 50 milhões de americanos migrassem para o Canadá em uma década, a região chegaria próximo ao que é hoje a população Russa com cerca de 146 milhões de pessoas. Isso geraria uma nova dinâmica de desenvolvimento e exploração de potenciais recursos minerais e energéticos daquele território. Outro processo de diminuição das tensões internas seria a possibilidade em manejar milhões de imigrantes que estão ilegalmente nos Estados Unidos para essas regiões isoladas.
Esses dados demográficos, do ponto de vista geopolítico é uma grande fraqueza do Canadá, que se tivesse que resistir a algum tipo de ocupação e anexação de tropas dos Estados Unidos, não teria contingente para resistir ao militarismo dos Estados Unidos e talvez prefiram fazer um acordo de incorporação completa e de reformulação dos Estados Unidos da América do Norte. Assim como fizeram a Escócia e o País de Gales na formação do Reino Unido, em que o Canadá até então ainda faz parte. Agora, resta saber se uma Inglaterra decadente e fragilizada em meio ao mundo globalizado, teria a coragem de enfrentar mais um conflito com a sua ex-colônia que se tornou e independente e o mais poderoso país dos últimos dois séculos?
Basta observar o que estar acontecendo com a População da Ucrânia que computava cerca de 40 milhões de habitantes e na atualidade se calcula uma perda demográfica para mais de 3 milhões de pessoas, que morreram nos campos de batalha, ou que se refugiaram em outros países da Europa. Com o Canadá a situação poderia ser muito pior, pois a grande maioria de sua população cerca de 75% viva nas áreas de fronteira com os USA.
Considerações Sobre o Expansionismo Geopolítico dos Estados Unidos
Entre os clássicos da Geografia Política e da Geopolítica, Nicholas J. Spykman (1893) - Geógrafo holandês, radicou-se nos Estados Unidos e se tornou o mais importante estrategista dos Estados Unidos, desenvolveu teorias acerca do expansionismo, controle e geoestratégias. Antes da 1° Guerra Mundial, ele desenvolveu a teoria ou estratégia de contenção, em que, os Estados Unidos deveriam adotar geopolítica externa intervencionista para além das Américas. Em seus pressupostos geopolíticos deram base para a Doutrina de Segurança Norte-Americana da Velha Ordem e Guerra Fria aos dias atuais.
Outro importante nome da geopolítica é Alfred Thayer Mahan (1840-1914), geoestrategista norte-americano, afirmava que "mar e poder” - teoria chave. Os países com grandes dimensões marítimas teriam condições de maior domínio. Ou seja, nos oceanos e mares estão a força ou a fraqueza de um país. Precisa de investimento na Marinha. Suas teorias levaram os Estados Unidos ao expansionismo em regiões dos oceanos Pacífico, Atlântico.
Também é importante considerar nessa análise a contradição histórica entre os que defendiam o iluminismo, mas estavam diretamente envolvidos em processos de exploração colonial e de escravidão humana.
Os dois conceitos ajudam a entender processos geopolíticos históricos. O Iluminismo é um conjunto de ideias que visavam criticar o Antigo Regime Europeu, a sociedade aristocrática de privilégios, absolutismo monárquico e o mercantilismo, controle ideológico da Igreja Católica, entre outros.
O Colonialismo é uma forma de imposição política, econômica e cultural sobre territórios ocupados ou dominados militarmente, o que ocorreu em todo o continente americano sob o domínio espanhol, português, Britânico, Francês, holandês e até Russo, como foi a região do atual Alaska.
Na região que deu origem aos estados Unidos, o colonialismo se deu por povoamento ao Norte e por exploração ao Sul. Mas ambos sobre o domínio Britânico, Francês, Dinamarquês, Espanhol e até Russo.
As primeiras colônias britânicas da América do Norte foram instaladas a partir de 1606 - foi chamada pelos colonos de jamestawn e localizava-se no atual estado da Virginia. Em 1620 - segunda leva colonos ingleses foi formada por puritanos. Eles chegaram á região em que chamaram Nova Inglaterra. Depois vieram as Colônias do Norte: Formadas por comunidades reduzidas e voltadas para a subsistência, as manufaturas e o comércio, foram divididas em 5 partes que são: Massachusetts Maime, New Hampshire, Rhode Island e Connecticut.
Na sequência as Colônias do Centro: Nova Iorque, Pensilvânia e a Nova Jersey e as Colônias do Sul: Eram Formadas por grandes proprietários. A mão de obra era escrava de negros trazidos da África pelo tráfico negreiro. A colônia foi dividida em 5 partes que são a Virginia, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Geórgia (mapas temáticos):
As Treze Colônias consolidaram um processo de independência ao contestar a autoridade da metrópole inglesa, influenciados por ideais iluministas também presentes na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e na constituição americana. No entanto, essa independência foi bastante conservadora por manter a estrutura social colonial, com a manutenção da escravidão e das disparidades entre colônias do norte e do sul. Alguns importantes tópicos históricos que dão conta de como se deu o processo de independência colonial dos Estados Unidos frente a Grã-Bethânia:
1) A Guerra de Independência - ocorreu entre 1776 e 1783, foi vencida pelos Estados Unidos com o apoio da França e da Espanha. As 13 colônias britânicas do Atlântico deram origem aos Estados Unidos da América – República Federativa Presidencialista. Mesmo assim, existiam duas regiões e interesses antagônicos (Norte e Sul).
2) Guerra Civil Americana – 1861 a 1865 – Depois da vitória do presidente Abraham Lincoln- 1860, originário do Norte dos Estados Unidos, região com visão mais liberal, perfil industrial, com trabalho livre e valorização da democracia interna, passaram a existir choques com os Estados Unidos do Sul.
3) Os estados do Sul - tiveram um desenvolvimento agrário baseado na grande propriedade e no modelo da plantation, isto é, grandes propriedades rurais que praticavam a monocultura (cultivo de uma ou poucas espécies de planta para o mercado) do algodão. O modelo da plantation valia-se da mão de obra escrava negra, já que, além de não ter o custo do trabalho assalariado, o tráfico transatlântico de escravos também gerava bastante lucro.
4) Mesmo antes das eleições os Estados do Sul já cogitavam uma secessão, isto é, em separação entre as duas regiões e na criação de outro país, os Estados Confederados da América, em oposição ao Norte.
Estes quatro tópicos são os dados históricos que conduziram os Estados Unidos de 13 colônias iniciais para 51 Estados federados e que entre os séculos XIX e XX, com seu expansionismo e conquistas territoriais, se tornou a maior potência geopolítica e econômica do século XX e início do século XXI.
Neste mapa dos Estados Unidos da América do Norte, vemos a configuração geopolítica Final do século XVII - 1685 – Territórios, espanhóis, britânicos e Franceses. Em meados do século XVIII e século XIX o seu expansionismo com base o Destino Manifesto permitiu essa configuração que se estendeu do oceano Atlântico ao Oceano Pacifico.
A Doutrina do "Destino Manifesto” – é uma filosofia que expressa a crença de que o povo dos Estados Unidos foi eleito por Deus para comandar o mundo, sendo o expansionismo geopolítico norte-americano apenas uma expressão desta vontade divina. Assim foram montadas as estratégias:
1 - Compra de territórios - foi por este formato de expansão territorial que se deu os primeiros importantes avanços na linha fronteiriça norte-americana, com a compra da Luisiana à França de Napoleão Bonaparte em 1804 e a compra da Flórida em 1819 aos espanhóis.
2 – Diplomacia - exemplo deste formato de expansão a anexação do Óregon aos ingleses, em 1846, a partir de compensações de natureza diversas pelo direito de soberania ao território.
3 – Guerra - o México foi a maior vítima do expansionismo norte-americano, pois perdeu parte considerável de seu território original. Inicialmente, os colonos norte-americanos estabelecidos no Texas declararam a independência deste, logo depois aceitando sua incorporação aos Estados Unidos.
Os conflitos iniciados com a ocupação de colonos dos EUA, em várias partes de território pertencente ao México chegaria ao fim somente em 1845, através do tratado de Guadalupe-Hidalgo, que estabelecia a fronteira entre México e Texas, além de ceder aos norte-americanos as atuais Califórnia, Arizona, Novo México, Nevada, Utah e parte do Colorado por meio de uma indenização de 15 milhões de dólares.
4 - Guerra contra as nações indígenas - Macha para o Oeste, era imprescindível aos colonos que "pacificassem" os povos indígenas. Os povos indígenas foram massacrados a partir da filosofia do “Destino Manifesto”, sendo muitos deles exterminados, outros depararam-se com uma quase-extinção, outros acabaram assimilados aos dominadores.
A Compra do Alaska se deu depois de uma Crise geopolítica entre o Reino Unido e o Império Russo, fizeram o czar Alexandre II decidir que seria melhor vender o Alaska aos Estados Unidos. Em março de 1867, a Compra do Alaska pelos Estados Unidos foi feita por uma quantia de US$ 7.200.000,00 dólares (equivalente a mais de US$ 100 milhões atualmente).
Naquela época (1867), o Alaska contava com aproximadamente 2,5 mil russos, 8 mil aborígenes e 50 mil esquimós vivendo em suas terras. O nome Alaska foi escolhido pelo povo dos Estados Unidos, que recebeu o novo território através de uma cerimônia no dia 18 de outubro de 1867. Na ocasião, soldados russos e estadunidenses desfilaram, a bandeira russa foi arriada e, através de um pronunciamento formal, as terras foram entregues ao governo dos Estados Unidos.
A anexação do Estado do Havaí (Mokuʻāina o Hawaiʻi em havaiano), ocorreu em 1893, a rainha Liliuokalani foi deposta, e um ano mais tarde, a República do Havaí foi estabelecida, com Sanford B. Dole como presidente. Após a anexação (1898), o Havaí se tornou um território dos EUA em 1900. Com base militar e forte potencial turístico.
Estas foram as bases do “Destino Manifesto” que foi complementada pelas políticas de Estado forte no que ficou conhecido como “Doutrina Monroe ou a América para os Americanos”. Em 1823 - o presidente James Monroe fez discurso oficial ao senado que foi definidor das ações dos EUA frente aos países latino-americanos e as antigas metrópoles coloniais. A ideia era “a expansão dos Estados Unidos sobre o continente americano, desde o Ártico até a América do Sul, é o destino de nossa raça (...) e nada pode detê-la". Ou seja, o sonho norte-americano de anexar o Canadá e outros territórios da região são antigos e datam de 1823, e já completaram 200 anos.
Em 1898 – 1901 – EUA declararam guerra à Espanha alegando ser contrários à colonização de Cuba e Porto Rico. Além de Cuba Porto Rico, os americanos anexaram o controle sobre Filipinas, a ilha de Guam, Samoa Americana e Ilhas Marianas. Essas ultimas ocupações ultrapassaram os limites físicos do continente americano e chegaram ao pacifico a ao continente asiático e a Oceania, seus cenários de atuação durante a 2ª Guerra Mundial.
Outra área de expansionismo foi a construção do Canal do Panamá. Em 1903, os EUA ajudaram militarmente o Panamá a conquistar sua independência em relação à Colômbia. Em troca, barganharam o direito de construir um canal que ligaria os oceanos Atlântico e Pacífico (1914).
Ao longo do século XX, o intervencionismo ganhou novas interpretações como o Corolário Roosevelt ou o princípio de guerra preventiva, defendido por George W. Bush. Colin Powell, secretário de estado do governo George W. Bush, em 2004 disse: "O nosso objetivo com a ALCA é garantir para as empresas norte-americanas o controle de um território que vai do Polo Ártico até a Antártida”.
Agora nos resta saber para onde vai a democracia e o neoliberalismo, quando Trump já tinha avisado que não aceitaria derrota e agora tem maioria absoluta vinda das urnas, com um poder de manobras radicais ou de 360 graus. Se os imigrantes são para o discurso de Trump o que os judeus foram para nazifascismo de Hitler e Mussolini na Europa da Segunda Guerra Mundial. Vejam que massacrar imigrantes é uma pauta da ultra direita na Europa e nos Estados Unidos, mas a dependência por imigrantes ainda é bem maior.
As grandes corporações tanto na Europa quanto na América, são completamente dependentes de imigrantes, em especial os imigrantes de elevada qualificação docente e profissional. Outro importante aspecto dos imigrantes é o preço baixo pago a essa mão-de-obra "ilegal". Será que Trump vai mesmo extraditar os milhões de imigrantes ilegais ou ao anexar o Canadá ao Estado Norte-Americano seria uma saída para usar essa mão-de-obra barata em regiões, frias, montanhosas e isoladas do Canadá seria uma nova forma de exílio tal qual os russos usaram na Sibéria?
Com essa eleição de Trump, estamos vivendo o caos da política, pois a extrema direita conseguiu crescer mais que o fascismo e do que o nazismo no começo do século 20? Um século depois e caminhamos para o pior dos mundos anteriores as duas grandes guerras mundiais e pós guerras. Para onde caminha a humanidade, em um mundo permeado por guerras, tomado por crises ambientais, mudanças climáticas e neoliberalismo em crise? Será que estamos caminhando para o fundo do poço, independente das escolhas pouco democráticas e movidas aos bilhões de dólares? Trump apenas piora o que já piorou muito, em especial nessa última década, pois não se trata mais de direita ou esquerda e sim de volta do fascismo e do nazismo em outras pátrias que diziam combater esse extremismo de direita.
Esse é o jogo do imperialismo capitalista e suas classes dominantes, inclua-se aí, as guerras físicas e seu grande negócio militar, as guerras fiscais e as taxas de juros para o mundo, sansões ou embargos econômicos aos "inimigos" do sistema hegemônico. Os fabricantes de armas, as grandes empresas de energia e combustível e o dólar, as megas empresas no topo do mundo. Esses são os reais interesses das eleições presidencial, dos Estados e Congresso Nacional, em uma "luta intestinal" entre grupos de direita e extrema direita.
Alguns estão avaliando que Trump vai atrapalhar os possíveis governantes de esquerda na América Latina, como Brasil (Lula) e governos do México, Colômbia, Chile ou Venezuela. Nesse quesito não vejo diferença entre Democratas ou Republicanos. São farinha do mesmo saco. Trump é apenas mais previsível e direto que os democratas, mas controlar tudo é propósito dos dois partidos. Agora é o momento de o Brasil acordar contra algum golpe mais acelerado e se tocar que a Venezuela precisa mais de apoio do que antes. Ampliar a aproximação com a China, Rússia e Irā são mais urgentes agora.
Outra coisa que poderá ser ruim para o Brasil com a vitória de Donald Trump está vinculada a taxação de produtos estrangeiros. O agronegócio do Brasil sofrerá um grande impacto, pois Trump vai taxar as comodities do agro e pelo que ele anunciou, serão aumentos que podem ir de 35% até 100% ou mais. O agro brasileiro é um grande exportador para os Estados Unidos (café, suco de laranja, soja, frango, porco, carne bovina, frutas tropicais etc.), então aos bolsonaristas do agro, eu não estaria tão feliz com a vitória de Trump, a não ser que gostem de perder dinheiro.
As ações da extrema direita mundial são contundentes e não estão para brincadeiras, o outro aspecto geopolítico a ser analisado é a presença do Brics+, na construção de um mundo multilateral que se choca diretamente com os interesses geoeconômicos e geopolíticos dos Estados Unidos, portando, não vai ter arrego com Trump. Os negócios do grupo econômico de Trump, tem muito interesse na Rússia e aliados, então, será possível uma reaproximação e até mesmo o completo estrangulamento da Ucrânia, coisa que os russos intensificaram nesse período das eleições americanas, pois até parece que já sabiam do resultado pró Trump.
Será que o sonho americano acabou, foi tomado pelo medo, pela violência discursiva e pelo fim da democracia de fato? Será que a democracia, que já era rara no "país das liberdades vigiadas", acabou de vez? Será que os bilionários das redes sociais irão dominar o mundo, elegendo seus fascistas favoritos? O mais simples a analisar, nos dias atuais, os EUA agora tem grandes concorrentes internacionais e a geopolítica das intervenções militares e das grandes corporações, não estão dando tão certo, como deram desde a dolarização (1944), OTAN, FMI e Banco Mundial e Guerra Fria. Com a crescente desdolarização da economia global, os ianques terão que se reinventar.
O Trump precisa reinventar a América que ele quer para os americanos ou afundar de vez o sistema neoliberal, pois o BRICS+ estão dando adeus a hegemonia do dólar e não vai adiantar fazer embargos, sansões e guerras fiscais contra chineses, iranianos ou russos, pois o mundo em que vivemos é interdependente, desigual e combinado. Para as esquerdas mundiais um alerta, através de grandes mídias e de redes sociais manipuladas e muito bem pagas, democracia é uma palavra que perdeu completamente o sentido, ficou amarrotada e entregue nas mãos de lunáticos perversos e violentos como o Trump. Isso tudo com a ilusória participação popular.
Por Belarmino Mariano. Imagem das redes sociais (BBC Brasil e CNN Brasil).
Fonte atual de pesquisa: ICL Notícias (06/11/24); Brasil 247 (06/11/2024); OperaMundi (06/11/2024); Brasil de Fato (07/11/2024).