Waldemar José Solha
Waldemar José Solha
Waldemar José Solha

A mais terrível das artes

Por: | 26/01/2025

Acabo de ver uma entrevista da Fernanda Torres na Globonews em que, em certo momento, me vi no lugar dela. Disse que o papel de Eunice Paiva lhe ensinou muita coisa.Uma delas foi na cena em que fica sabendo que o marido foi morto. A personagem resiste. "Mas quando a cena terminou, saí do ambiente e fui chorar lá fora." Ou seja: era uma pessoa, reagiu de um modo, passou a ser outra, reagiu diferente. Isso me lembrou uma pontinha que fiz no Eu sou o Servo, do Eliézer Rolim. Na cena de meu fuzilamento, vendaram-me, ataram-me os pulsos, o Eliézer se aproximou e me disse em voz baixa: "Lembre-se de que é pai de um padre. Quando eu gritar `Pelotão, preparar!" - faça o sinal da cruz".

E a coisa aconteceu.

- Atenção, som, câmera, aaação!

Me vi tenso, um nervo me repuxando o lado direito do rosto - coisa que jamais acontecera.

- Pelotão: preparar!

Ergui as mãos atadas e puxei a venda para encarar a morte.

- Apontar!!!

e

- Fogo!!!

Fuzilado, ouvi - logo em seguida - Eliézer encerrrando a cena:

- Corta!

E berrei como uma criança! Ajoelhei-me berrando. Jamais - antes nem depois - fiz tal escândalo.

E agora vejo Fernanda Torres dizer que como Eunice Pavia, se segurou. Mas,

- Corta!

e foi chorar lá fora.

Por isso eu digo que essa é a mais terrível das artes.


FONTE: Facebook - Acesse

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