Acabo de ver uma entrevista da Fernanda Torres na Globonews em que, em certo momento, me vi no lugar dela. Disse que o papel de Eunice Paiva lhe ensinou muita coisa.Uma delas foi na cena em que fica sabendo que o marido foi morto. A personagem resiste. "Mas quando a cena terminou, saí do ambiente e fui chorar lá fora." Ou seja: era uma pessoa, reagiu de um modo, passou a ser outra, reagiu diferente. Isso me lembrou uma pontinha que fiz no Eu sou o Servo, do Eliézer Rolim. Na cena de meu fuzilamento, vendaram-me, ataram-me os pulsos, o Eliézer se aproximou e me disse em voz baixa: "Lembre-se de que é pai de um padre. Quando eu gritar `Pelotão, preparar!" - faça o sinal da cruz".
E a coisa aconteceu.
- Atenção, som, câmera, aaação!
Me vi tenso, um nervo me repuxando o lado direito do rosto - coisa que jamais acontecera.
- Pelotão: preparar!
Ergui as mãos atadas e puxei a venda para encarar a morte.
- Apontar!!!
e
- Fogo!!!
Fuzilado, ouvi - logo em seguida - Eliézer encerrrando a cena:
- Corta!
E berrei como uma criança! Ajoelhei-me berrando. Jamais - antes nem depois - fiz tal escândalo.
E agora vejo Fernanda Torres dizer que como Eunice Pavia, se segurou. Mas,
- Corta!
e foi chorar lá fora.
Por isso eu digo que essa é a mais terrível das artes.
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