Em 24 de janeiro de 1985, foi fundado o Partido da Frente Liberal (PFL). Surgia como forma de viabilizar o processo sucessório, com a adesão de antigos aliados do regime militar ao movimento de redemocratização. A Folha de S.Paulo, em editorial, saudou sua criação:
> "Não deixa de ser promissora a possibilidade de (o novo partido) disputar uma parcela específica do eleitorado, sensível à pregação antiestatista, à defesa da livre iniciativa e da desburocratização, assim como a outras teses do conservadorismo moderno."
A boa causa, no entanto, nunca livrou o partido do estigma de herdeiro da Arena e do PDS, legendas que apoiaram a ditadura militar. O termo "liberal" refletia a adesão de lideranças políticas que participaram do regime militar e passaram a contribuir para o processo de redemocratização. Estavam pressionados por uma mobilização social que exigia mudanças imediatas, inconformada com a incapacidade do regime de resolver a crise econômica na qual o país estava mergulhado, penalizado por uma inflação galopante, alto índice de desemprego e o crescimento das dívidas externa e interna.
A formação do partido contou com o envolvimento da elite política do Nordeste, incluindo sete governadores: Gonzaga Mota (CE), Divaldo Suruagy (AL), Hugo Napoleão (PI), Luís Rocha (MA), Agripino Maia (RN), João Alves (SE) e Roberto Magalhães (PE), todos oriundos do PDS. O único governador nordestino a não aderir ao movimento foi Wilson Braga, da Paraíba, por uma questão de ordem local, em razão de sua incompatibilidade política com o ex-governador Tarcísio Burity. Contrariando o que alguns divulgavam, não houve restrição ao seu ingresso no PFL; pelo contrário, ele foi insistentemente convidado.
Oficialmente criado, o PFL firmou com o PMDB a "Aliança Democrática", que trabalhou para garantir o retorno das eleições diretas em todos os níveis, propondo a retomada do crescimento econômico e a organização de uma Assembleia Constituinte após a eleição de 1985. Prevalecia o entendimento de que, em um sistema presidencialista, as alianças partidárias são imprescindíveis para a governabilidade — como continuam sendo.
O PFL, portanto, integrou a primeira coalizão da recém-instalada democracia, apoiando o governo que teria como presidente Tancredo Neves, do PMDB, eleito em 15 de janeiro. Na data de sua fundação, o partido contava com uma base parlamentar composta por 79 deputados e 17 senadores. O resultado da eleição presidencial não previa que o PFL assumisse o primeiro governo civil pós-ditadura. No entanto, a inesperada morte de Tancredo Neves impôs essa mudança histórica. José Sarney sequer conhecia a composição do ministério do governo que estava assumindo, já que todos os ministros haviam sido escolhidos por Tancredo, com a colaboração de Ulysses Guimarães. Apenas quatro pefelistas haviam sido nomeados: Marco Maciel (Educação), Aureliano Chaves (Minas e Energia), Olavo Setúbal (Relações Exteriores) e Paulo Lustosa (Desburocratização). Os ministros filiados ao PFL eram, portanto, minoria em um governo que passaria a ser comandado por um integrante do partido. Além dos quatro ministérios, a legenda conseguiu nomear representantes para cargos estratégicos, como Hélio Beltrão na Petrobras e o cearense Camilo Calazans no Banco do Brasil.
Como parte da Aliança Democrática, o PFL foi fundamental na articulação política que garantiu a vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, contribuindo decisivamente para uma abertura democrática pacífica e sem rupturas. Após a eleição, diante da impossibilidade de o presidente eleito tomar posse, coube ao PFL — mesmo sendo formado por integrantes historicamente vinculados à ditadura — comandar o início da transição do Brasil para a democracia.
Não há como negar que o PFL foi um dos maiores partidos da história política brasileira, governando estados, capitais e o Congresso Nacional. Em 2007, passou por um processo de refundação, trocando sua denominação para Democratas (DEM), com o propósito de se reposicionar no cenário político e criar uma nova identidade perante o eleitorado. Posteriormente, em outubro de 2021, com a fusão entre o DEM e o PSL, surgiu o União Brasil.
Rui Leitão
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