Waldemar José Solha
Waldemar José Solha
Waldemar José Solha

Estamos indo embora

Por: | 26/03/2025

Ontem dei com um pardal no jardim, bastante ferido. Coloquei-o num leito de panos, aqui no meu birô, dei-lhe arroz miúdo, que ele, sem poder se mover, comeu um pouco. Acariciei-lhe a cabeça, adormeceu. Continuei a trabalhar em meu livro. Ele ao meu lado, tentou duas ou três vezes voar, não conseguiu. Aí minha filha Andréia veio me dizer que dona Adélia - vizinha nossa, tempos atrás - falecera. "Ô!" Fora uma grande amiga que, junto de outra - que também há anos trocara de bairro - enchiam-nos de gargalhadas. Nos tempos em que eu datilografava, Dona Adélia me disse rindo, um dia:"O Solha, hoje, começou a escrever às 4 e meia da manhã!" No dia em que ela estava de mudança, eu vinha a pé, na rua, e ela, de longe, me disse que se eu dissesse que livro era aquele que tina na mão, ele seria meu. "É da coleção de prêmios Nobel de literatura com a capa de Picasso!"

- É seu!

Quando voltei do cemitério, vi que o pardal morrera.

Enterrei-o agora de manhã.

Estamos indo embora.


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