Waldemar José Solha
Waldemar José Solha
Waldemar José Solha

QUANTO É IMPORTANTE OUVIR, ANTES DE PUBLICAR

Por: | 29/03/2025


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Meu primeiro poema longo, TRIGAL COM CORVOS - de uma série do que chamo de "tratados poético-filosóficos" - foi tema de capa do Correio das Artes de 18 e 19 de setembro de 2004, graças a estimulantes ensaios sobre ele escritos por Hildeberto Barbosa Filho e João Batista Barbosa de Brito,
João - saliento, com foco no título acima - começa o seu comentário, dizendo que uns dez anos antes recebera de mim os originais de um livro de poesia, que lhe parecera "solto demais, discursivo, conceitual, denotativo demais, para ser poesia".
- "Com que cara de pau eu iria lhe dizer isso?"
Disse... por escrito.
- ... e "Solha me ligou e soltou uma bela gargalhada, que para mim foi um alívio, pois significava que não havia se ofendido e, melhor, ainda, se não aceito, ao menos entendido a minha crítica."
- "Pois bem, agora recebo Trigal com Corvos e descubro que é uma expansão dos originais que conheci, num franco e fundamental melhoramento".
Trabalhei onze anos nesse livro.
João Batista de Brito fizera por mim, o que Ivo Barroso fez ao malhar meus originais do romance "Relato e Prócula" e do "rimance" "A Engenhosa Tragédia de Dulcineia e Trancoso". Sempre confio esses textos a vários grandes leitores e - claro - gosto dos elogios - mas puxo o freio de mão quando alguém, com sofrida franqueza, me mostra defeitos não percebidos por mim e por outros leitores. O que aconteceu com João ao receber o Trigal publicado, foi exatamente o que houve com Ivo, quando, algum tempo depois, entrevistado pelo Estadão sobre como andava a ficção brasileira, disse:
- Muito bem. Agora mesmo acabo de ler "Relato de Prócula", de W. J. Solha, um dos três melhores romances brasileiros dos últimos vinte anos.
Aprendi a lição quando, ao ouvir Jurandy Moura dizer que os originais de meu primeiro romance - "Israel Rêmora" - estavam "muito ruins"- fui tentar contestá-lo e ele me deteve, com sua enorme calma:
- Não vamos discutir. Sempre, quem acaba de criar um livro, não tem noção do que disse de menos nem do que disse demais. Ponha a data de hoje nessa capa, vá fazer outra coisa e, daqui a seis meses, releia o que fez.
- OK.
Fui escrever "A Canga".
Seis exatos meses depois, o susto, e um trabalho enorme, que reduziu o livro a um terço do que era. Foi quando dei os originais para o Barreto Neto, ele me disse que se eu não ganhasse o Fernando Chinaglia com ele, não acreditaria em concurso algum, mais, neste país. e foi profético.
Claro que é um desconforto saber que não alcançamos a perfeição a que pretendíamos ter chegado, mas - por experiência própria - muito mais sofre quem tem de nos dizer isso. Mas como são necessários!
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Em destaque, trecho do texto de João Batista de Brito sobre Trigal com Corvos, no Correio das Artes.
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(Trecho da AUTO B/I/O GRAFIA em que estou trabalhando ) 


FONTE: Facebook - Acesse

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