Por: Pablo Honorato
Senhoras e senhores representantes da política partidária,
de todas as correntes ideológicas,
Escrevo estas palavras movido pelo respeito que nutro pelas lutas históricas dos trabalhadores, bem como pela fidelidade inegociável à minha consciência.
É notório que a organização política tradicional se consolidou majoritariamente através das agremiações partidárias. No entanto, longe de romantizar essa história, reconheço que essas estruturas, muitas vezes, se degeneraram em maquinarias de autopreservação, mais preocupadas em reproduzir poder do que em transformar realidades.
Minha experiência pessoal — amadurecida no enfrentamento direto das distorções sociais — me ensinou que a verdadeira liberdade política nasce fora dessas engrenagens viciadas. Por isso, trilho deliberadamente o caminho da apatia consciente e da autonomia irredutível.
Não me interesso pela aproximação a partidos políticos ou a candidaturas. Não porque desconheça a política, ao contrário, compreendo-a profundamente. Leio há um bom tempo a contribuição de teóricos, já ministrei disciplina de Teoria do Estado, há anos estudo Ciência Política, já fiz um mestrado em Direito, sou professor, sou servidor público, sou advogado. Mas não encontro sentido em me sujeitar a estruturas onde os espaços de construção coletiva são condicionados por hierarquias invisíveis, mandos velados e estratégias de dominação.
Desagrada-me, particularmente, a prática rotineira de infiltrar em movimentos sociais autônomos os chamados assessores parlamentares, operadores de confiança de partidos políticos, que, sob o manto da participação, tentam transformar ambientes livres em extensões silenciosas de interesses com que não pactuamos.
Por isso, venho, com toda a firmeza e respeito, pedir generosamente que não nutram expectativas a respeito de apoio político partindo desse humilde homem negro.
Solicito que se abstenham de enviar seus assessores e articuladores para espaços políticos nos quais eu esteja envolvido. Peço que permitam que iniciativas sociais independentes floresçam livres das sombras das velhas oligarquias, sejam elas de direita ou de esquerda.
Meu horizonte político é de esquerda, enraizado no compromisso com a justiça social e com a dignidade humana. No entanto, não me sinto representado pela prática política que a esquerda institucionalizada hoje encarna.
Sinto, ao me relacionar com militantes que obedecem sem questionamento, um vazio profundo — como se a centelha viva da reflexão crítica tivesse sido sacrificada em nome da lealdade cega a um ideal que não se concretiza porque outros interesses são sempre postos primeiro.
A ausência de espírito dialético, a incapacidade de reconhecer contradições internas e de desafiar hierarquias estabelecidas, fazem com que esses espaços, que deveriam ser libertadores, pareçam cárceres de pensamento, túmulos da crítica.
Meu compromisso é com a liberdade, a reflexão e o fortalecimento das vozes populares genuínas — não com a reprodução de estruturas que, no fundo, perpetuam o que dizem combater.
Peço, portanto, que compreendam: meu passo é outro. Minha música é outra.
Como escreveu o grande Henry David Thoreau:
"Se um homem não mantém o passo com seus companheiros, talvez seja porque ouve um outro toque de tambor. Ele que acompanhe a música que ouve, por mais marcada ou distante que seja."
Respeitosamente,
Pablo Honorato.
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