Por: | 30/04/2025
Amanhã, 30 de abril de 2025, salto no tempo. Nunca publiquei em toda a minha vida o registro da passagem. Mas, uma volta a puerilidade, nos remete aos grande amigos e amigas de infância. Nasci em Campo maior/PI terra dos heróis da Batalha do Genipapo, nós contra os portugueses sob o comando de Fidié. A independência do Brasil foi garantida graças aos que enfrentaram os portugueses sem pé doido. Para o registro da história , que ainda capenga, não recupera o heroismo dos
piauienses de Campo Maior e Salvador na Bahia, que pegaram em armas e enfrentaram os portuguese. Os paulistas das margem do Ipiranga foram para um aniversário de crianças. Minha homenagem no dia do meu aniversário vai pros descendentes dos heróis da batalha do Jenipapo, nós as crianças lindas que nasceram lá, os meus amigos e amigas, desde as primeiras letras. Os balequeiros e a educação, ao contrario da tristeza da minha foto que publico, espelha a nossa alegria de viver. A festa é deles, de mais ninguém
OS BALEQUEIROS E A EDUCAÇÃO
Na asa de folha, as lembranças de vários amigos da infância, em Campo Maior/PI. Poderiam ser tudo na vida. E foram, na Praça da Bandeira. Vejo com nitidez a perícia cirúrgica de Jaó dissecando uma lagartixa. Casaca, Chico Lubim, teste de espingarda de cano de geladeira, com garantia de seu Cancão na solda do ouvido. Casa de mestre Augusto, onde exalava um cheiro bom de café torrado.
Uma explosão. Beira do Rio Pintadas, década de 1970, manhã qualquer de julho. A pólvora, num tiro esfumaçado e seco nos surda, misturado a riso, prega Lubim no mandacaru. Reunião de emergência, espingarda na mesa, prováveis causas da segunda explosão dos canos. À primeira, não obstante o cano, o tiro derrubou o pé de mamão-macho na casa de Dona Lousa. Cumplicidade do filho amigo e irmão Chiquinho (Cumbá). Conclusão, novas espingardas, bons tiros e caçadas.
Não confundir com as da Ditadura Militar na tortura, execuções, cerceamento da liberdade, que se alastrou por anos. Cena horripilante. Presos políticos acorrentados em cima de um caminhão. Passagem para os porões da morte. Corpos nunca encontrados. Vejo as motos de madeira perfeitas, com pneu de rolimãs, descendo e subindo as ladeiras.
Carros passando e provocando um frio de doer. Ao som estridente do hino nacional do velho Ovídio Bona. Éramos proprietários das que fazíamos. Nossas empresas não participavam de licitações fraudulentas. Lembro de Cangati, figura impressionante, bem humorada, andando com a cachorra Faísca nas incursões e brincadeiras, à procura da burra do Gazeta.
Rumo à casa do Tombador repousa o fantasma de Fidié. Passagem por Campo Maior, após o massacre nas beiradas do Rio Jenipapo. Época da Independência do Brasil. Carambila, Mariano e Bubu (poderia ter jogado na seleção brasileira), irmãos fantásticos na arte com madeira. Miranda (exímio atirador de flecha), Evaldo, Lindolfo, Maninho, Dema, Nerindina, Claudinha, Fátima. Lurdinha, Lurdes Barroso, Ana Augusta, Ana Cleide e Clara, Geraldinho Lopes, Luís Higino, Isaías (Buchudeca), o maior brigador de nós.
Nena, Américo, Chagas, Felipe (Preto), Cosme, Valdenir, Zé Luís, Zé Luís Félix, Carlos Henrique, Abdul, Joaquim, Salvador, Cuzuado, Bololou, Paulo Afonso, Carlinho, Chico Zé, Nonato, Alice, Helena, Ezilene, Fenelon, Luís Emídio , Seu Rena, João Antônio, Agamenon Vieira, Chico Boca, Gó, Braga, Braguinha, Zeferino, Zé Fernandes, Cesário, Boguém, Didô (dois duelos). Os vultos ainda povoam, na Praça da Bandeira, à procura das catirinas. Elizeu Macedo (Pelebreu), Raimundinha Bandeira (o nosso equilíbrio), Raimundo Antônio (Bacabal), Pretextrato, Nilo, Milton Higino, o mais pronto de nós.
Boquinha, Graça Bona, Eliane (musa), Julinho, Antônio Neto, Monteirinho, Caspíta, Marcos, Mano, Velho Naza (eu), membros do Jornal criado no Colégio Estadual de Campo Maior. Época de chumbo da Ditadura. Não tivemos medo. No Ginásio Santo Antônio (escola da elite), Honório, Josias, Marcílio, Zeca, Clodoveu, Valter, Euclides, Maurício, Chagas, Carlos Henrique, Ivan.
Mesmo quando a memória apascenta o pensamento, outros amigos virão na asa. Obrigação de lembrar. Formamos uma classe diferente, em termos educativos, de qualquer escola nota “dez” da prefeitura de Teresina ou do Brasil. Educamo-nos na prática cotidiana, nas artes de Dona Lina, na criação de nossos brinquedos, na interpretação dos filmes de seu Zacarias e Estácio, Cine Nazaré; nos sermões obrigatórios de padre Mateus e Isaac.
Com os bolos fritos de Dona Rosário, que nos acalmavam a fome. Não acredito que a escola brasileira tenha ensinado, a nós e nos outros, mais do que aprendemos com a convivência fraterna, que marcou profundamente a nossa personalidade e maneira de ser, ao longo das nossas vidas. Aos mestres, nossa gratidão pelo desenho dos números e letras.
Ao MEC, nosso protesto por nunca ter implantado a escola unitária, o trabalho como princípio educativo; e pelos sistemas de avaliação (verificação) da educação que medem apenas o que pode ser decorado.
Publicado no Jornal O Diário do Povo/PI. Em 21/11/2010.