José Octávio de ARRUDA MELLO
José Octávio de ARRUDA MELLO
José Octávio de ARRUDA MELLO

O HOMEM DA AFUF – É Sérgio Botelho!

Por: | 13/06/2025

José Octávio de ARRUDA MELLO (*)

A AFUF trata-se da Associação dos Funcionários da Universidade Federal, criada, juntamente com a ADUF – Associação dos Docentes da Universidade Federal – ao longo do reitorado Berilo Borba, quando da redemocratização da UFPB, impulsionada pelo antecessor Linaldo Cavalcanti.

Sérgio Botelho tornou-se, então, um dos seus principais dirigentes, como líder dos movimentos reivindicatórios da categoria. Filho de professora de antiga escola de datilografia da rua Arthur Aquiles, Botelho era também jornalista, o que lhe valeu transferir-se para Brasília, como assessor da bancada paraibana e participante de jornais e emissoras da capital federal.

Quando voltou, em 2023, trouxe na bagagem o aliciante Memórias da Cidade de João Pessoa, de que ora me ocupo, reafirmando a primeira impressão – livro gostoso, bom de ler!

Situada na linha dos estudos urbanos pessoenses, fortalecidos com o recente João Pessoa: Uma Cidade em Quadrinhos (2025), da trinca José Octávio – Luiz Augusto Paiva – Edi Guedes, a coletânea de abordagens de S.B. prima pela leveza de análise. Apoiada em teses e dissertações condensadas no capítulo final – “Fontes Consultadas” – onde é de destacar a professora doutora Maria Berthilde de Moura Filha, a monografia principia pelos rios e igrejas que configuram o primitivo espaço da capital paraibana.

Enquanto os primeiros – de nome Marés, Do Meio e Sanhauá – formalizam “o fio condutor da história pessoense”, esteiado nos porto, comércio e circulação de hidroaviões, a derrubada de algumas de nossas antigas igrejas faz-se deplorada pelo autor:

“A demolição desses templos, vítimas, em primeira argumentação, do crescimento da cidade, ocorreu em um período histórico comum, entre as décadas de 1920 e 1930. Falo das, já à época, mais que centenárias igrejas de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, na altura do atual Ponto de Cem Réis, da Irmandade de Nossa Senhora Mãe dos Homens Pardos e Cativos, em Tambiá, e da Irmandade de Nossa Senhora das Mercês Pretos e Pardos, onde existe a Praça 1817. Em comum, todas elas serviam de sedes para irmandades de leigos.”

A partir daí, Memórias da Cidade de João Pessoa ocupa-se dos principais logradouros e edifícios que vão ritmando a evolução histórica e arquitetônica da urbes. Ressaltem-se entre elas as praças Antenor Navarro, Venancio Neiva e Aristides Lobo, Prédio dos Correios e Telégrafos, Loja Maçônica Branca Dias, Centro Cultural São Francisco, Palácio do Bispo, Casarão dos Azulejos, Praça da Independência, Hotel Globo, Paraíba Hotel, Casa da Pólvora, Grupo Escolar Thomas Mindelo e Fábrica de Cigarros de João Pessoa. Esta última, abrigando, no futuro, a Prefeitura Municipal, assegurou indústria fumageira de que era dotada a capital.

A circunstância de essas edificações não se apresentarem em ordem cronológica constitui um dos encantos de quem recorre a espécie de ensaio desmontável. Nesse particular, Memórias da Cidade de João Pessoa, com título significativamente no plural, assemelha-se às Vidas Secas, de Graciliano Ramos, no sentido de que se pode consultá-lo a partir de qualquer um dos capítulos. 

Tal, em nosso modo de ver, não obscurece o senso histórico de Sérgio Botelho. Sensível à Roda dos Enjeitados de José Balbino e antigos vuco-vucos da praça Aristides Lobo, o autor compreende que o presidente João Pessoa, além de pretender subir a cidade, com os Paraíba Hotel e Avenida Epitácio Pessoa, situa-se nas origens do mais profundo acontecimento da História do Brasil:

“é que o assassinato do paraibano, que compunha a chapa de Vargas, na condição de candidato a vice-presidente, causou um alvoroço de tal ordem no Brasil, uma vez interpretado como crime político, que provocou a chamada Revolução de 1930”.

É claro que um insight dessas proporções presta-se a discussões. A Ladeira de São Francisco não é o lugar por onde a cidade subiu, mas desceu, à procura do rio, da mesma forma como, na praça João Pessoa, o coreto central precedeu o Altar da Pátria porque o sucedeu, após a derrubada desse. Outrossim, torna-se difícil entender o que Sérgio Botelho quis dizer com as Branca Dias das páginas 83/5, depois que a questão foi esclarecida por Gilberto Freyre em Apipucos: que Há num Nome? (1978).

Não procedo essas colocações para desmerecer quem produziu livro que se impõe. Muito bem prefaciado por Hildeberto Barbosa Filho que, em artigo para A União de 23/02/25, o denominou de “viagem sentimental”, Memórias da Cidade de João Pessoa expressa a seriedade de autor que, tendo comparecido à famosa reunião do Colégio Sion, em São Paulo, acha-se na obrigação de discorrer sobre a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) em cuja órbita inicialmente gravitou a Associação dos Funcionários da Universidade Federal da Paraíba. A AFUF de Sérgio Botelho.


(*) Historiador de ofício, pós-doutorado pelo IEB/USP e autor de História da Paraíba – Lutas e

Resistência (14ª Ed 2023).


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