Até os 8 anos fui gago. Me chamaram de “gaguinho”. Odiava! Quebrei os dentes de muitos meninos e lasquei a cabeça de muitos que me jogavam, na cara, a triste alcunha. Quando criança, sofri bullying e outras mazelas tempos afora. Vivia zangado e brigando. Viver, para mim, sempre foi a arena de sempre. Sempre foi a guerra de sempre. Na escola me bateram de palmatória. Me puseram de joelhos na janela porque não tinha decorado a lição de história. Vejam
bem, de história, esta coisa estúpida e inventada. Um dia, já tinha apanhado em casa, tive uma diarreia na sala de aula do Grupo Escolar Major José Barbosa e fui vítima da risada geral. A professora, em lugar de me proteger, me deu doze bolos na mão direita. Fiquei louco de raiva. Peguei a palmatória e lasquei na cabeça dela. Ela sofreu com a dor. Chorou e fez escândalo. Claro, fui expulso do Grupo. Sempre fui expulso de grupos. De instituições. Da vida. Mas vivi… O tempo passou, as coisas nunca melhoraram. Fui adolescente problemático. Não suportava a hipocrisia do mundo. Li Nietzsche aos 15 anos e quase enlouqueci. Me apaixonava toda sexta feira. Fazia poemas medíocres para as amadas imaginárias. Como fui sozinho nesses anos todos!! Amadureci, envelheci, continuo gago, briguento, apaixonado e doido para destruir o mundo e bater nos covardes que me cercam. Como não tenho os mesmos punhos, a mesma habilidade do judoca que fui, só me resta a ilusão da palavra, para dizer, sem concessões, esse mundo não presta. Deus não existe. Estamos sós, dentro do maior buraco do mundo, asfixiados, sem saída: EXISTIR.
