Às vésperas de uma decisão histórica no Supremo Tribunal Federal (STF), quando oito figuras notórias da história recente da República brasileira sentam-se no banco dos réus para serem julgados pelos crimes de atentados à democracia que lhes são imputados, eis que nuvens ameaçadoras no horizonte voltam a se acumular, tentando desencaminhar o curso inexorável da história do Brasil.
Os réus, confessos, sofrem a acusação muito grave de terem articulado um golpe de estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Ao longo do processo, todos reconheceram as respectivas participações na tentativa criminosa. Alguns explicitamente, como foi o caso do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro. Outros tentando se esquivar. Todos, porém, admitindo que sim, que atentaram contra a democracia brasileira.
Mas, nem bem o processo terminou, e a ultradireita, travestida de parlamentar, busca inverter valores, deturpar verdades, conturbar todos os procedimentos judiciais e normas constitucionais, criando o caos da desordem política, organizando-se para excluir justamente o ex-presidente réu confesso das penas previstas em lei para quem comete delitos extremos como os revelados em investigações da Polícia Federal e denúncias do Ministério Público Federal.
Essa alcateia começa a organizar um novo golpe contra a nossa democracia recém-saída da adolescência. Porque esse golpe que se insurge seria aprovar uma lei especificamente para salvar Bolsonaro. Isso vem a contrariar no mínimo aqueles 55% de cidadãos que, respondendo a pesquisas de opinião, manifestaram-se veementemente contrários à anistia para golpistas em geral e suas lideranças em particular.
Se o novo golpe surtir efeito, toda a organização criminosa denunciada pelos órgãos de defesa do Estado será igualmente beneficiada. Mas eles não serão beneficiados porque têm algum mérito e sim tão somente porque se encontram no mesmo bando, digo, no mesmo barco. Senão, jamais receberiam tal beneplácito.
Estão querendo anular, desconstruir e desmoralizar o STF, guardião da nossa Constituição, instância máxima do nosso sistema judiciário, para torná-lo um órgão burocrático, submisso às veleidades e vontades de outros poderes. Agentes do lado inconfessável da política brasileira querem dar continuidade ao processo de endireitização ou fascistização da nossa Magna Corte Judicial, manchando sua história e sua competência originária.
Pergunto: onde estão os cidadãos notáveis que não concordam com um novo golpe? Por que não se manifestam? Onde estão os arautos da democracia como Chico Buarque, Marisa Monte, Chico César, Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alkmin, o imortal Gilberto Gil e demais acadêmicos da Academia Brasileira de Letras (ABL) e expoentes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)?
Por que se calam ou se encolhem os empresários democráticos deste país, os dirigentes de conselhos federais de profissões liberais diversas, as lideranças estudantis de tantos bons combates que foram às ruas por tantas causas justas desde a Primeira República? Será que a democracia e seus valores não merecem sequer uma oração dos cardeais da CNBB, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil?
Saiam do conforto dos seus lares, pois estamos todos igualmente ameaçados! Vamos dizer que somos a maioria democrática do Brasil. E façam coro conosco, gritando a plenos pulmões: DITADURA NUNCA MAIS!
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