Ranieri Botelho
Ranieri Botelho
Ranieri Botelho

A SEITA DA SOMBRA

Por: | 08/10/2025

Há uma loucura que não se veste de camisa de força, mas de verde e amarelo.
Uma insanidade que não se recolhe ao silêncio, mas que grita, late e vocifera pelas redes sociais.

É a loucura da seita bolsonarista. Não é simples política, não é mera discordância democrática.
É fé cega. É devoção sem freio. É um fanatismo que se curva diante de um homem como se fosse um mito, e que cospe ódio contra qualquer outro nome que ouse ameaçar esse altar de ilusões.

Lula, o PT, a esquerda — não importam os fatos, não importam as provas, não importam os números.
Basta que sejam inimigos. Basta que a seita diga: “É o mal.”
E o rebanho repete: “É o mal.”

As fake news são a hóstia desse culto: correntes de WhatsApp, vídeos duvidosos, frases recortadas, imagens adulteradas.
O fanático não pergunta: ele acredita.
Não reflete: ele compartilha.
Não lê: ele reage.

A cada postagem, pensa estar salvando o Brasil, mas só ajuda a mergulhá-lo mais fundo na escuridão da mentira.
É triste e, ao mesmo tempo, perigoso. Porque o fanatismo não se contenta em ser ridículo; ele precisa ser nocivo.

A mentira que se espalha não destrói apenas quem a recebe, mas também quem a propaga.
A cada fake news lançada, a cada ataque vomitado, a mente se aprisiona mais e mais no labirinto da própria insanidade.
É como beber veneno acreditando que é remédio — e ainda oferecer o copo ao vizinho.

E o país, nesse espetáculo do absurdo, vai se tornando refém.
A seita que idolatra um homem e demoniza milhões alimenta o ódio, semeia a discórdia, cava trincheiras entre irmãos.
O fanático já não ama a pátria; ama apenas a caricatura que inventou dela.

O fanático bolsonarista não dialoga. Ele não ouve, não pondera, não considera.
Ele berra. Ele ataca.
Transforma qualquer conversa em arena, qualquer crítica em heresia.

Viver ao lado de um deles é como morar perto de um sino que nunca se cala:
a cada hora do dia, um repique estridente de fake news, um eco de insultos, uma ladainha contra Lula, a esquerda e o PT.

É curioso como a mentira, quando repetida à exaustão, ganha ares de verdade na cabeça do fanático.
Ele a mastiga, a engole e depois a regurgita para os outros, sem jamais notar o fedor que exala.
A mentira é o ar que respira. Sem ela, sufoca.

Por isso, se agarra a cada vídeo suspeito, a cada print sem fonte, como se fossem tábuas de salvação em meio a um naufrágio que ele mesmo provocou.

Mas há algo ainda mais sombrio: esse fanatismo não se limita ao ridículo das redes sociais.
Ele tem consequências concretas, palpáveis.
O ódio alimenta a violência, e a violência encontra braços dispostos a agir.

É aí que a seita mostra seu rosto mais perigoso: não é apenas a insanidade virtual, mas a ameaça real à democracia, às instituições, à vida de quem ousa pensar diferente.

O Brasil, nesse cenário, é como uma casa em chamas onde parte dos moradores insiste em jogar mais gasolina acreditando que se trata de água benta.
Eles celebram o fogo, acreditam no fogo, compartilham o fogo — e ainda chamam de traidor aquele que tenta apagar as labaredas.

O risco é evidente: quando a loucura se transforma em identidade, qualquer razão soa como ofensa.
O fanático não se sente enganado — sente-se escolhido.
Não se vê como vítima — mas como guerreiro.

E, nesse delírio messiânico, entrega sua vida e sua lucidez a um homem que jamais lhe devolverá nada além de silêncio e descaso.

E o país, cansado, observa.
Uns ainda tentam argumentar, outros se afastam, muitos se calam.
Mas o fanático segue, dia após dia, noite após noite, pregando sua fé doentia como se fosse dono de uma revelação divina.

O futuro, porém, não pertence às seitas.
O fanatismo, cedo ou tarde, implode.
Os mitos caem, os líderes se desmancham, as máscaras racham.

E talvez, nesse dia, o fanático acorde da sua febre.
Mas será tarde: terá desperdiçado a vida servindo não à verdade, mas à sombra.

E se o Brasil não despertar antes que essa febre passe, não será apenas o fanático que pagará o preço de sua loucura — será toda a nação, arrastada para o abismo por um culto que nunca foi à pátria, mas sempre à mentira


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