“Perdido seja para nós aquele dia em que não se dançou nem uma vez”. Sempre gostei deste aforisma de Nietzsche. Interpreto o dançar não somente como um movimento do corpo, uma coreografia física, uma forma sinuosa e inventiva de explorar os espaços vazios. Creio que se dança também com as palavras e com os compassos do pensamento. O que é o poema senão uma erótica dança verbal. Associada à musicalidade das coisas, a dança participa de uma íntima condensação, assim como dos secretos deslocamentos da alma. Discorrendo acerca de Isadora Duncan, Roger Garaudy fala em “dançar a vida”. Não se pode, portanto, sucumbir à tristeza da imobilidade. Todos os ritmos, os inumeráveis, os estranhos, os impossíveis, comungam do perfume da dança enquanto semente libertária do prazer e da criação.