Israel, a ideologia
antiocidental e as chances de paz no Oriente Médio
Washington Rocha
Caminhando para encerrar minha abordagem da questão em
que já me estendi por duas colunas, preciso tratar, ainda que de maneira muito
rápida, da extravagante ideologia antiocidental, precisamente porque essa nova
doutrina tem como um dos alvos de desconstrução o Estado de Israel; por
entender que este é um braço “decolonial” do “imperialismo ocidental”.
Tal doutrina, que elege a Civilização Ocidental como
inimiga de todo progresso, libertação e felicidade a que a Humanidade almeja, foi
criada e prospera no Ocidente: o pólo contrário contestador seria o Sul Global.
Ou seja, intelectuais ocidentais inventaram e nutrem uma ideologia de
destruição da civilização que os pariu. A essa extravagância, juntam-se várias
outras; porém, quero focar naquela que mais me intriga: o fato de que na crista
dos agrupamentos que perfilham o antiocidentalismo estão autoproclamados marxistas;
quando a doutrina de Marx e Engels foi formulada precisamente na linha de
evolução e progresso da Civilização Ocidental. Um exemplo inequívoco está no
início do Manifesto Comunista:
“A história de toda a sociedade
até aqui(4*) é
a história de lutas de classes.
[Homem] livre e escravo,
patrício e plebeu, barão e servo [Leibeigener],
burgueses de corporação [Zunftbürger] (5*)e
oficial, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em constante oposição uns
aos outros, travaram uma luta ininterrupta, ora oculta ora aberta, uma luta que
de cada vez acabou por uma reconfiguração revolucionária de toda a sociedade ou
pelo declínio comum das classes em luta.”
(marxists.org)
Notem
que “patrício e plebeu” refere-se ao mundo romano; “barão e servo” refere-se à
Idade Média européia; “burgueses de corporação e oficial” refere-se ao início
da Modernidade na Europa.
Considerem também esta avaliação
feita por Lênin, no célebre artigo “As Três Fontes e as Três partes
Constitutivas do Marxismo”, sobre a bagagem intelectual que permitiu a Marx e
Engels construírem a revolucionária filosofia/doutrina:
”O marxismo é o sucessor legítimo do que de
melhor criou a humanidade no século XIX: a filosofia alemã, a economia política
inglesa e o socialismo francês.”
(marxists.org.)
Agora,
esses marxistas fajutos da ideologia Sul Global descobriram que a Civilização
Ocidental é o que de pior criou a humanidade. E voltam sua simpatia e seu apoio
para países os mais atrasados; como é o caso do Irã. Justamente o Irã, uma teocracia
tenebrosa que escraviza as mulheres: as prende, espanca e mata se desobedecerem
dogmas de opressão que lhes determina até o rigor no modo de vestir. De modo
semelhante, essa implacável teocracia persegue os gays, sendo o relacionamento
homoafetivo punível com prisão, chibatadas ou execução.
Vejam
aonde a ideologia antiocidental foi atolar o marxismo.
Considerei
antes que a possibilidade de encerrar o conflito entre Israel e os Palestinos
estava na velha proposta de dois Estados; ou seja, como o Estado de Israel já
existe, a criação do Estado da Palestina. Disse também que duas forças se
opunham a tal solução: o governo criminoso de Netanyahu e o criminoso grupo
terrorista Hamas, que é governo criminoso em Gaza. Acrescento agora a força da
ideologia anticiocidental. Eis que ideólogos dessa mixórdia pregam que só será
possível uma solução de paz para a região após o aniquilamento do “imperialismo
ocidental”.
Entretanto,
atitudes corajosas e vozes lúcidas se vão somando na direção da solução
possível. Em Israel avolumam-se os protestos contra o governo criminoso de
Netanyahu. Exteriormente, países amigos de Israel passaram a fazer pressão cada
vez mais forte contra um governo cujos excessos criminosos – ao exercer seu
legítimo direito de defesa – precisam ser imediatamente barrados. Nesse
concerto internacional contra Netanyahu, deve-se destacar a fala do líder
democrata no Senado dos EUA, senador Chuck Schumer, que declarou o
primeiro-ministro israelense como “um obstáculo à paz” e pediu sua renúncia e
novas eleições em Israel. Nesse sentido, as atitudes do presidente Joe Biden contra
Netanyahu são ainda tímidas, mas devem avançar.
O senador
Chuck Schumer é judeu e defensor intransigente de Israel; isto indica o quanto
a comunidade judaica internacional já entendeu que Netanyhu é um mal para
Israel. Seria importante que os palestinos e os países árabes entendessem que o
Hamas é um mal para a Palestina.
Paz para
Israel com seu Estado preservado! Paz para a Palestina com seu Estado
edificado!
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