Por: | 20/04/2024
Hoje Augusto dos Anjos faria 140 anos, vivo fosse. Lembrei-me da data de seu nascimento. 20 de abril de 1884. Presto, assim, minha homenagem à sua memória, publicando, aqui, estes dois poemas que dialogam com a sua poesia genial.
“Eu”
Do fundo da estante,
Ainda não atravessei
a ponte Buarque de Macedo,
e me sufoca o silêncio
dessa Ilha de Cipango.
Ouço apenas
a música dos vermes
na solidão
(aqui e lá fora).
(Do livro, dançar com facas, 2016)
“Augusto”
Debaixo deste tamarindo
escrevi da sombra o meu monólogo.
Pus Jesus Cristo no cume da serra
e me fiz na paleontologia dos carvalhos.
Guilhermina me deu de beber o leite
da poesia, e a várzea se estendia, verde,
como as árvores da Ilha de Cipango.
Não me importa a mecânica nefasta
da vida. Serei sempre o que ficou sozinho
cantando, sobre os ossos do caminho,
a poesia de tudo quanto é morto.
(Do livro, De quase nada se faz um poema, 2022)