Viver sempre me inquietou. Não que a vida me assuste, embora desconfie de suas cláusulas e determinações. Por outro lado, algo me diz que sua lógica é precária e insustentável. Gosto de viver. Não poderia ser diferente. Sinto, no entanto, a presença fatal de um elemento desordenador dentro das coisas, dos fatos, das pessoas. Um elemento tácito, volátil, inapreensível. Digamos, uma ilusória segurança, a sensação de que nada tem solidez, de que toda
garantia se esfacela. Konovalov, personagem de um conto de Gorki, falava da ausência de “um ponto de apoio”. Sim. É exatamente isto. Não existe ponto de apoio. Honestamente, tenho de admitir que piso, dia a dia, em areia movediça, que estou à mercê de fenômenos invisíveis e incontroláveis, absolutamente só, desamparado no estranho e incontornável comércio das relações humanas.