Li muito Tolstoi, Dostoievski, Flaubert, Eça de Queiroz, Machado de Assis, Henry James, Marcel Proust, James Joyce, só para ficar entre escritores maiores do século XIX, e do começo do século XX. Seus romances estão cheios de ideias, de temas e de questões históricas e existenciais. Aprendi muito com eles. Leio esse povo de hoje, da segunda metade do século 20 e dos inícios do século do 21 (Annie Ernaux, Elena Ferrante, Rosa Montero, Carla Madeira,
Socorro Acioli, Itamar Vieira, Conceição Evaristo e que tais, e sinto que as ideias preexistem ao texto, às intenções, às boas intenções, e são o ponto de partida da ficção. Ficção de tese. Ficção para defender causas. Primeiro, o primado das etnias, dos gêneros, da exclusão, dos colonizados, das mulheres, enfim, do predicado urgente das coisas ditas corretas, e só depois, muito depois, a coisa estética. Literatura com função didática. Literatura que pretende corrigir o mundo São quase todos premiados. Mas os concursos se submeteram ao jugo do politicamente correto e ao viés didático dos chamados estudos culturais. Um Lampedusa ou um Lawrence, por exemplo, seriam obviamente reprovados nessa competição de idiotas. A grande literatura, isto é, a única literatura, não conta mais. Nosso tempo é também o tempo do engodo, do vazio e do cansaço. Predomina, na anomia de seus critérios, o estranho sabor da merdiocridade.