Sérgio Botelho – Nada como contar com fontes primárias para clarificação de ocorrências envoltas pelas brumas da história. Nessa quarta-feira, 13, a empresária e jornalista Afra Soares me repassou importante documento, dos escaninhos do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba-IHGP, sobre o processo religioso que condenou (ou melhor, aliviou) o frei José de Jesus Cristo Maria Lopes, pelo cruel assassinato da moça Tereza, nos idos de 31 de julho de 1801. Segundo o historiador Irineu Pinto, perpetrado na Bica dos Milagres. Como se sabe, amante da indigitada criatura, o frade franciscano encontrou-a, certo dia, com um outro amante, por quem o religioso foi ofendido. Teria, então, convocado um escravo e um índio que lhe serviam a fim de atrair a moça a uma cilada. Foi então que a matou a pauladas e a traspassou com um pau. Um crime horrendo em todos os sentidos, ainda mais vindo de um padre. O que nos chegou às mãos, fruto do esforço de Afra, foi nada mais nada menos do que sentença exalada pela Mesa de Definição do Convento de Nosso Pai São Francisco da Bahia, datada de 11 de março de 1802, garimpada, um dia, pelo ex-deputado e pesquisador Otacílio Nóbrega de Queiroz, sobre a qual ela já havia chamado a atenção quando escrevi sobre o fato, Pelo que está contido no arrazoado, o crime não aconteceu na Bica dos Milagres, e sim bem próximo ao convento de São Francisco, no lugar “Forno do Cal”, perto do “Portão do Carro”. No documento não há relato de índio junto com o padre e o escravo. A sentença decretada pelo colegiado religioso se limitou à condenação do réu a dois anos de cárcere formal, com jejum a pão e água, às sextas-feiras, privação de voz ativa e passiva por três anos e perpétua proibição de moradia nos conventos “da parte de Pernambuco”. Enfim, o frade não foi condenado pela morte de Tereza, sobre a qual não valeram os testemunhos da filha da moça, por ter apenas 7 anos, nem do escravo, que terminou preso, após confessar o crime e o comando do padre. O frade foi sentenciado por arruaças que fazia na Parahyba e pelo fato de ser amante da criatura assassinada, com recomendações de que cuidasse em emendar sua vida. Não há informação sobre se ele cumpriu a determinação, nem mesmo a sentença.
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