Pior do que ter inimigos é não tê-los. Sempre gostei deste pensamento, formulado pelo escritor cearense, Pedro Salgueiro. Gilberto Freyre, em artigo no Diário de Pernambuco, de 25 de maio de 1924, citado por Mário Hélio, em A história íntima de Gilberto Freyre, afirma: "é mais doloroso viver sem inimigos do que sem amigos. (...) O que é preciso é que sejam inimigos dignos de nós mesmos". O mestre de Apipucos tentava uma possível explicação para o
rompimento da amizade entre Nietzsche e Wagner. Ambos, seres de uma mesma magnitude. Não é isso o que ocorre, no entanto, em meio à experiência da maioria. Certos inimigos são tão díspares entre si, que um, principalmente o menor, o indigno, o pusilânime, nunca fará bem ao outro, o maior, o melhor, em valor ético, cultural e artístico. As hostilidades nem sempre trazem prejuízo. Um "bom" inimigo pode nos ajudar muito. O problema, grosso modo, é que só se tem inimigos piores e maus. Aqueles que pertencem à raça aziaga dos invejosos, dos ressentidos, dos peçonhentos. Não raro, estão bem perto de nós: no meio da rua, dentro de casa, ajoelhados nas igrejas, em frente aos quartéis, ocupando poderes nas instituições.
