INFÂNCIA PERIGOSA - Dinheiro de Carteiras de Cigarros e Outras Memórias.
Por: | 17/11/2024
Por Belarmino Mariano e Aurélio Damião. Hoje estive em Carlos Art, com Ericas Mariano, para a confecção de um banner para sua participação no Encontro de Psicologia da EESAP 2024. Enquanto Carlos Damião fazia a arte do banner, chegou o amigo Aurélio Damião, filho de Carlos, com um maço de cigarros, pois ele é um fumante moderado e amigo da UEPB. Lhe disse que não conhecia aquela marca, e ele explicou que era uma marca coreana dos novos importados. Ai brincando, disse para ele que no meu tempo de menino, carteiras de cirros vazias viravam dinheiro de brincadeira. Caramba, começamos a lembrar dessa época e Aurélio disse que chegou a "ser banqueiro" com notas de cigarros e, nossa memória disparou um monte de lembranças acerca desse tempo de crianças e adolescentes, que nem fazia muito tempo assim. As Notas de embalagens de cigarros e as memórias de futuro fumante deu a Aurélio o estalo de quem "já foi muito rico", pois caminhava léguas à procura de uma carteira de cigarros vazia para a coleção e futuros negócios, em uma espécie de banco imobiliário de crianças pobres. Num determinado momento, Lúcia Damião, mãe de Aurélio, entrou no ambiente para dar um bom dia e também participou da conversa, dizendo que era menina, mas também brincou muito com notas feitas de maços de cigarros. Ela disse que com os irmãos e primos montaram um banco só para traca de notas e, seus tios fumantes, garantiam boms estoques de dinheiro. Erica Mariano lembrou que seu pai era viciado e ela também bincou de dinheiro em carteira de cigarros. Carlos Damião disse que começou a fumar aos 17 anos e bem antes era uma brincadeira da sua turma de amigos. Nessa brincadeira de recordar, lembramos que era tanto dinheiro que a gente amarrava com ligas e, o bom era encontrar marcas raras e caras, pois eram poucas e valiam bem mais. Existia uma escala de valores, em que marcas como Arizona, Continental e Hollywood eram as mais comuns (2, 5 e 10 cruzeiros). Conseguir um Calton, Mustang, Minister ou Malboro era um achado fantástico, que sempre ultrapassou o valor de 50, 100 ou mais. Só a galera com mais grana conseguia fumar esses cigarros muito mais caros. Nunca fui fumante, mas como um 6.0,;era uma brincadeira da minha época também. Acredito até que fosse uma indução midiática da época, pois os comerciais de marcas de cigarros eram verdadeiros clipes ou trechos de filmes do cinema Norte-americano. Fumar, beber e festejar eram temas para is comerciais da época. A brincadeira era simples, a gente encontrava os maços de cigarros vazios, abria e estirava o papel, dobrava os vincos da embalagem para dentro, transformando o papel quadrado em um retângulo. Aí dobrava ao meio e estava pronta a nota. A casa da moeda perdia feio para a molecada periférica, capaz de transformar as lindas e cheirosas embalagens de cigarro em dinheiro que parecia de verdade. A gente corria campo em busca dos maços de cigarros vazios. Eram verdadeiras obras de artes, com cores vivas, detalhes em dourado e apareciam em outdoor, em patrocínio de esportes radicais e corrida automobilística da fórmula 1. Outra estratégia da garotada era monitorar ou fumantes compulsivos e de marcas exclusivas. Nesse caso, o melhor era fazer amizade com o fumante para garantir que ele guardasse as embalagens para a gente. Outra coisa que lembro bem era o cheiro do tabaco que passou a ter outros estímulos odoríficos e de sabor ao exemplo da menta chocolate, hortelã entre outros. A gente já conseguia diferenciar as marcas pelo cheiro e eram cheirosos. Nada parecido com o fumo puro, conhecido como "pé de burro" que deixava a gente tonto só com as piolas dos nossos avós fumantes. Lembrei de uma namorada da juventude, uma moreninha de nome Rosa. Ela usava sabonete Palmolive de canela e fumava Charme. Eu não queria perder aquela garota, comprei um maço de Charme e comecei a fumar. Confesso que cigarro não era meu forte, mesmo sendo suave, acho que fumei por no máximo uma semana. Ficava enjoado, tinha ânsia de vômito e não dei continuidade a experiência. Moral da história, perdi a namorada, mas escapei de me viciar. Naquela época já havia esse seguimento de cigarros para mulheres, eram cigarros finos ou cumpridos, geralmente com odores e sabores suaves. Além do Charme, tinha também a marca Ella, Brilliant e outros exemplos raros para nossas cidades interioranas. Eram considerados cigarros mais fracos, mais suaves e até mais sofisticados ou luxuosos. Mas eram pouco consumidos, então eram maços raros, se tornavam mais caros e aumentavam o seu valor, tanto do produto em si, quanto das notas de brincadeira. Aurélio lembrou que havia até discriminação nas notas, e os moleques queriam desvalorizar as notas, pois diziam que era "cigarro de mulher", mas era só perguntar: Tu tem? As respostas eram quase sempre não. Então é valioso. Tipo, uma nota de charme valia três notas de Hollywood. As gigantes da indústria tabagista eram muito lucrativas, e as marcas internacionais eram comuns em todos os países. Aqui no Brasil a Sousa Cruz era líder majoritária. Outras como Philips Morris, também acessavam nosso mercado. Outra grande disputa do mercado de cigarros eram as produções falsificadas, que entravam pelo Paraguai, made in China, Coréia e outras. Usavam as embalagens e modelos oficiais e até os selos de qualidade, mas não eram confiáveis. Mas para as nossas notas, nada era falsificado e tudo tinha seu valor. A gente começou a lembrar de marcas fantasias de cigarros que circularam no mercado brasileiro, dos mais populares aos mais sofisticados e caros. Quem lembra de alguma dessas marcas: Arizona, Continental, Hollywood, Carlton, Malboro, California, Dallas, Charm, Derby, Ritz, Belmonte, Chanceler 100, Plaza, Kent, Free, Advance, Minister, Porto, Columbia, Mustang, Hilton, Camel, John Player Special (JPS), L&M, L&S, L&B, Ella, Lucky Strike, Parliarment, Palermo, Compasse, Monte Carlos, Brilliant, Vogue, West, Capri, Winston... Observem que essas marcas fantasias estão muito relacionadas ao cinema e a regiões dos Estados Unidos, mas temos marcas relacionadas aos países europeus como Portugal, França, Inglaterra e Itália, entre outros. Nos dias atuais as grandes marcas tiveram que se reinventar, pois nas últimas décadas houveram grandes avanços na área de saúde e a confirmação de sérios ou graves problemas de saúde oriundos do tabagismo. Desde graves problemas pulmonares e de outros órgãos até os problemas fetais de mulheres fumantes grávidas ou parceiras de fumantes compulsivos, até a redução da potência sexual, entre vários tipos de cânceres de garganta, amídalas, cardíacos etc. Em dezenas de países a legislação de combate ao tabagismo se tornou mais forte e também as proibições de fumar em ambientes públicos, como locais de trabalho, ambientes como restaurantes, hotéis, trens, ônibus, metrô e outros. Outro forte ataque ao tabagismo foram leis em que as empresas foram obrigadas a colocar imagens dos males causados pelo uso frente e continuado de cigarros. Além disso, passou a existir uma grande restrição aos comerciais de cigarros em propagandas, comerciais e até em programas de tv, novelas e outros tipos de meios de comunicação. Os países do Extremo Oriente como Índia, China, Vietnam, Filipinas e Coréia ainda são grandes consumidores de tabaco e existem muitas marcas que chegam ao Brasil. Usando o Google chegamos aos mais populares da Coréia: Carnival, Pine Prime, Bohem Cigar No.2, Bohem Cigar No.3, Bohem Cigar No.5, Bohem Cigar No.6, Bohem Cigar Mojito e Bohem Cigar Mini, entre outros. A China National Tobacco Corporation é a maior empresa mundial de tabagismo e com o processo de globalização a partir dos anos de 1990, as importações de marcas chinesas ganharam espaço no mercado brasileiro e mesmo com o rigor das leis brasileiras em combate ao tabagismo, as importadoras disponibilizam dezenas de marcas para consumidores brasileiros, popularizando os cigarros importados para todo o país, inclusive com muitas denúncias de cigarros falsificados e importações ilegais, via países vizinhos como Paraguai, Argentina e Uruguai, entre outros. As grandes marcas fantasias que circulavam com grande força no mercado brasileiro, quase todas fabricadas pela Sousa Cruz SA, ainda continuam existindo ou ganharam outras nomenclaturas, mas nada se compara ao grande consumo e propagandas de cigarros das décadas de 1980, 1990 e 2000. Agora estamos diante da geração saúde e de um certo preconceito ao tabagismo, mesmo assim, observamos que o cigarro não é mais uma coisa de cinquentões viciados, das gerações passadas Vemos cada vez mais, jovens "descolados", com um cigarro importado no bico, sem esquecermos dos cigarros eletrônicos que representaram uma nova fatia de mercado, que foi deixada pelos cigarros à base de tabaco. Aquela brincadeira aparentemente inocente pode ter viciado muitas crianças e adolescentes de nossa época, pois existia um verdadeiro fetiche aos cigarros, pois apareciam em quase tudo da sociedade industrial e de consumo. O cigarro e o fumante eram status para todos e todas, durante ditaduras, guerras frias, instabilidades políticas e econômicas e a contra-cultura, efetivamente vinculadas aos movimentos jovens, estudantis e de esquerda. As grandes marcas e o intenso mercado de tabagismo se tornaram os mais lucrativos mercados da sociedade de consumo, entre os anos 1970 e 2000, o estranho era não fumar. ALERTA - O Ministério da Saúde adverte: Fumar faz mal à saúde! Guimbas, bitucas ou piolas de gigaros prejudicam o meio ambiente. Por Belarmino Mariano e Aurélio Damião. Imagens das redes sociais.