Hildeberto Barbosa
Hildeberto Barbosa
Hildeberto Barbosa

O desencanto cresce como erva daninha...

Por: | 21/11/2024

Pensamentos Provisórios

Onde estou estão todas as coisas que me afetaram. Menino, era o vento que me trazia notícias das verdes léguas e das reses que se perderam no ossuário das secas. A mata estampava seus assombros na letra martirizada do meio dia. Soberano descansava. Eu imaginava o futuro, indecifrável, nas réstias do juazeiro carcomido pelo tempo e sob a ladainha desarticulada de um chocalho extraviado. Homem feito, foi a velocidade de tudo que me sugou corpo e alma. O trabalho e os dias distribuídos pela delicadeza das palavras, pela fúria dos elementos, pelos olhos e pelos lábios das santas caprichosas que me sepultaram. Cada história vivida, uma lavoura que acabava. Nem aguar as raízes de insólitos vocábulos trouxe a película da paz para apascentar as ovelhas desgarradas de meu coração. Velho, os perfumes apodrecem. A beleza se desmoraliza, a verdade desiste de dar as caras. O vento continua soprando seus hinos imaculados e fatais. Seus duros oráculos, suas aziagas litanias. O desencanto cresce como erva daninha, a morte esculpe o oratório perfeito, ninguém possui o dom da originalidade.


FONTE: Facebook - Acesse

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