Pablo Marçal: incêndio em São Paulo - por Catarina Rochamonte

Pablo Marçal: incêndio em São Paulo - por Catarina Rochamonte
29/08/2024

Pablo Marçal: incêndio em São Paulo

por Catarina Rochamonte     (O Antagonista)


São Paulo pegou fogo. Focos de incêndio se alastraram pelo estado causando enorme destruição. As queimadas foram causadas, em parte, por questões climáticas, mas há suspeita de que alguns focos de incêndio tenham sido criminosos.

No fim do ano passado, na apreciação do orçamento 2024, deputados e senadores resolveram diminuir a verba para fiscalização ambiental, prevenção e combate de incêndios.

O motivo pelo qual o Congresso corta verbas destinadas a atividades de inquestionável importância é fácil de adivinhar: a prioridade dos congressistas são eles mesmos; sendo preciso cortar da sociedade para que sobre dinheiro para os bilionários Fundo Partidário e Fundo Eleitoral, para as bilionárias Emendas parlamentares, para renovados privilégios que vão transformando os que deveriam ser representantes do povo em uma nova casta, regida pelos códigos e pelos rituais do fisiologismo.

Incêndio político

Enquanto isso, no curso das campanhas das eleições municipais, um incêndio político foi causado pela subida nas pesquisas de um candidato a prefeito, o “coach” Pablo Marçal (PRTB), que resolveu lacrar na disputa em São Paulo.

Com um debate e umas tantas postagens nas suas concorridas plataformas, Marçal subiu atropelando e já ameaça os antes favoritos Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB).

O sucesso de Marçal se deveu ao fato de ele se ter mostrado superlativamente inescrupuloso, ignorante, cínico e debochado; de modo que o eleitorado bolsonarista passou a cultuá-lo com ainda maior fervor do que o dedicado ao capitão. Para a nossa desgraça, o Brasil tem um novo “mito".

O culto instantâneo a Marçal não se limitou à capital paulista, mas espalhou-se pelo Brasil, ameaçando a liderança nacional do próprio Bolsonaro sobre o bolsonarismo. Marçal já é visto como um potencial candidato à presidente da República em 2026.

Tabata X Marçal

Causa estranheza que, diante do extravagante candidato em ascensão, apenas Tabata Amaral (PSB) tenha optado pelo caminho óbvio de apresentar a ficha corrida do dito cujo.

Em seu vídeo mais recente, a candidata levanta a questão: “Furto qualificado, quadrilha de fraude bancária, lavagem de dinheiro, ligações com o crime organizado. Nada disso é segredo. Eu sei porque está tudo documentado pela justiça e pela imprensa. Mas os meus adversários também sabem. Então por que eles não se mexem?”

A própria candidata, então, explica a estratégia de ambos. Segundo ela, Nunes acha que vai para o segundo turno com Boulos e quer negociar o apoio de Marçal. Boulos, por sua vez, quer levar Marçal para o segundo turno por achar que tem mais chances contra ele. “Nunes e Boulos estão assumindo o risco de ter um criminoso mandando na maior cidade do Brasil”, conclui Tabata.

Passageiro ou duradouro, o fenômeno Pablo Marçal expõe a lama para a qual a política brasileira vai escorrendo, já faz algum tempo.

Nas democracias, quando em meio a grandes dificuldades, a sociedade costuma ver a chegada das eleições com alguma esperança. No Brasil, onde um picareta de ordem maior consegue ser catapultado eleitoralmente em meio à divulgação da sua própria delinquência, só resta o tédio e a desolação.

Tabata X Boulos

Registre-se, porém, que o confronto em São Paulo comprova que há distinções, nuances importantes a serem consideradas dentro da esquerda.

Tabata representa uma esquerda combativa e democrática, sendo louvável tanto o seu confronto com o delinquente político do momento quanto sua condenação, sem ambiguidades, do regime político da Venezuela, nomeado por ela como ditadura, com todas as letras.

Guilherme Boulos, por sua vez, representa uma esquerda em crise de identidade, sem rumo, sem moral e sem juízo, que se reveza entre adular Nicolas Maduro e entoar desafinadamente o hino nacional com gênero neutro.



FONTE: O Antagonista (oantagonista.com.br)

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