Carlos Newton
O destrambelhado e incontido pastor Silas Malafaia errou feio ao desmoralizar publicamente seu amigo Jair Bolsonaro, mas não há dúvida de que está cheio de razão. No caso, não se pode sequer argumentar que certas críticas deveriam ter sido feitas pessoalmente, em particular, como disse um dos filhos de Bolsonaro, ao falar em “roupa suja se lava em casa”, porque foi exatamente isso que o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo tentou fazer, inutilmente.
É preciso lembrar que Malafaia mandou mais de 30 mensagens por WhatsApp, mas o amigo Bolsonaro nem se deu ao trabalho de responder. Foi uma temeridade do ex-presidente, que agora está pagando caro por esnobar o pastor. Nem é preciso conhecer Malafaia para saber que ele tem pavio curtíssimo e jamais aceitaria passivamente esse tipo de descortesia.
HIPOCRISIA – É claro que nenhuma amizade resiste a um desentendimento de tal proporção. Como dizia Roberto Carlos, daqui para a frente, tudo vai ser diferente. Embora o pastor tenha dito que tudo está superado e ele até pode fazer campanha para Bolsonaro, é claro que isso seria uma hipocrisia inaceitável de ambos os lados.
Em tradução simultânea, é claro que Malafaia está costeando o alambrado que Leonel Brizola mencionava, e até já encontrou uma abertura, que o próprio líder evangélico citou, ao tecer altos elogios ao governador paulista Tarcísio de Freitas, que não atendeu à recomendação de Bolsonaro sobre a possibilidade de dividir seu apoio entre Ricardo Nunes e Pablo Marçal.
Com muita habilidade, Tarcísio deu uma volta em Bolsonaro e mergulhou na campanha de reeleição do prefeito de São Paulo, que conseguiu surpreender ao chegar na frente, e agora as pesquisas já apontam sua vitória com 55% dos votos.
PORCARIA DE LÍDER – Malafaia tem razão em considerar Bolsonaro uma “porcaria de líder”. Embora seja pago para isso, o ex-presidente não pretende mergulhar na campanha do segundo turno. Até agora sua agenda só registra um dia em São Paulo, para prestigiar Nunes, e mais um dia em Belo Horizonte, para apoiar Bruno Engler (PL).
Já dissemos aqui na Tribuna que essa falta de disposição para a guerra mostra que Ernesto Geisel estava certo, quando afirmou ao jornalista Elio Gaspari que o capitão Bolsonaro era “um mau militar”. Agora, tornou-se também mau político.
Não lidera nada, embora seja pago pelo partido, junto com sua mulher Michelle, com R$ 45 mil mensais cada um, que vêm se somar às duas aposentadorias como deputado e militar, à renda dos alugueis dos quase R$ 20 milhões que tem em imóveis e ao rendimento dos R$ 17,2 milhões que recebeu do público em Pix, para pagar advogados, e que já estão chegando a R$ 19 milhões, uma bola de neve financeira. Como dizia Vinicius de Moraes, que maravilha viver!
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P.S. – Com tanta grana e tanta falta de garra política, Bolsonaro pode estar se aposentado antes da hora. Parece que a inelegibilidade levou o ex-presidente a uma antecipada brochura, digamos assim, embora ele continue fingindo uma disposição que não se vê na vida real. “Que porcaria de líder é esse?”, perguntou Silas Malafaia, mas ninguém consegue responder. (C.N.)
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