Economia, tecnologia, cultura: a vital relação Brasil-Israel - por Reynaldo José Aragon Gonçalves

Economia, tecnologia, cultura: a vital relação Brasil-Israel - por Reynaldo José Aragon Gonçalves
04/11/2024

Brasil-Israel: o que está em jogo? A complexa relação Brasil-Israel

Como a dependência de tecnologias e investimentos israelenses molda a segurança e o futuro do nosso país!

Reynaldo José Aragon Gonçalves

Em tempos de polarização e incerteza, o Brasil se vê diante de um dilema crucial: manter as relações com Israel. Mas quais são os verdadeiros motivos que sustentam essa parceria? Neste artigo, exploramos a complexa teia de interesses econômicos, tecnológicos e culturais que torna essa relação vital para o Brasil. Descubra como a dependência de tecnologias e investimentos israelenses molda a segurança e o futuro do nosso país!

As relações entre Brasil e Israel se destacam como um eixo estratégico que transcende afinidades culturais ou meros alinhamentos ideológicos. Mais do que uma questão de postura diplomática, essa parceria envolve setores vitais para o desenvolvimento econômico, a segurança nacional e a inovação tecnológica no Brasil. Desde os primeiros contatos, esses laços evoluíram para uma dependência do Brasil, que hoje influencia áreas como defesa, agricultura, segurança cibernética e até mesmo o setor financeiro. Em um cenário global marcado pela competição tecnológica e pela necessidade crescente de segurança, Israel tem se consolidado como um dos principais fornecedores de tecnologia para o mundo, incluindo o Brasil. Essa dependência vai desde armamentos e sistemas de vigilância, que fortalecem as Forças Armadas e outras instituições de segurança, até soluções agrícolas e de gestão hídrica utilizados no agronegócio brasileiro. Ao longo das últimas décadas, a falta de investimentos históricos do Brasil em setores estratégicos como defesa, agricultura e tecnologia acabou por torná-lo dependente de tecnologias estrangeiras, criando uma vulnerabilidade considerável. Sem uma indústria nacional robusta capaz de desenvolver inovações de ponta, o Brasil se viu forçado a recorrer a parcerias externas para suprir suas necessidades críticas. Nesse contexto, Israel surgiu como um dos principais fornecedores de tecnologias avançadas, consolidando sua presença no país e utilizando essa dependência a seu favor. Essa situação abriu espaço para uma relação de dependência que, em muitos aspectos, se configura como uma espécie de "chantagem tecnológica". Ao fornecer sistemas fundamentais para a segurança e o desenvolvimento brasileiro – desde armamentos e monitoramento de fronteiras até soluções agrícolas e cibernéticas –, Israel passou a deter uma influência significativa sobre o Brasil. A interrupção dessa parceria colocaria em risco áreas sensíveis da infraestrutura nacional, o que reforça o poder de barganha de Israel e limita as opções diplomáticas e comerciais do Brasil. Assim, a escassez de investimentos locais em tecnologia não apenas ampliou a vulnerabilidade brasileira, como também permitiu que Israel consolidasse uma posição de controle, essencialmente criando uma relação de dependência estratégica.

No campo econômico, a presença do capital israelense no Brasil também é notável. Com investimentos em setores essenciais, como o agronegócio, comércio e serviços, empresas israelenses aportam tecnologia, recursos e expertise que ampliam as capacidades produtivas e a competitividade da economia brasileira. Essa cooperação econômica envolve mais do que simples transações comerciais; ela cria uma rede de interdependência que torna arriscada a hipótese de cortar relações sem impactos graves. Além disso, há um aspecto cultural e ideológico cada vez mais presente nessa relação, especialmente com o crescimento do apoio ao sionismo entre movimentos religiosos neopentecostais no Brasil. A identificação de líderes religiosos e milhões de fiéis com Israel reflete uma estratégia de guerra cultural que, ao mesmo tempo, aprofunda os laços entre os dois países e influência a base de apoio político interna. Esse sincretismo religioso, similar ao fenômeno ocorrido nos Estados Unidos, reforça a aliança com Israel, legitimando o apoio a suas causas e políticas. Este artigo busca, portanto, explorar as diferentes dimensões dessas relações e esclarecer por que, sob uma análise estratégica, o Brasil não pode, neste momento, cortar laços com Israel. A interdependência estabelecida nas últimas décadas se consolidou como um pilar da estrutura econômica, militar e cultural do país, o que torna qualquer mudança brusca uma medida potencialmente danosa para o Brasil.

Capital e dependência econômica: A presença do capital israelense na economia brasileira se intensificou nas últimas décadas, consolidando-se especialmente em setores estratégicos como a agroindústria, serviços e comércio. Esse investimento é vital para o funcionamento de setores essenciais da economia brasileira, que se apoiam fortemente em tecnologias e recursos vindos de Israel. A interdependência gerada por esses investimentos coloca o Brasil em uma posição delicada, onde a ruptura das relações econômicas com Israel poderia trazer impactos significativos. Israel é reconhecido mundialmente por suas tecnologias avançadas de irrigação e manejo de água, desenvolvidas em um cenário de escassez hídrica no país. No Brasil, a adoção dessas tecnologias tornou-se essencial, principalmente em regiões semiáridas, onde a água é um recurso escasso. Empresas israelenses, como a Netafim, líder mundial em irrigação por gotejamento, têm uma forte presença no mercado brasileiro, fornecendo soluções que aumentam a produtividade e a eficiência hídrica no agronegócio. A Netafim, por exemplo, atua no Brasil há décadas e tem parcerias com grandes produtores de soja e milho, além de associações agrícolas, oferecendo soluções que garantem uma produção estável e competitiva para o setor. A Netafim, desempenha um papel essencial no agronegócio brasileiro, especialmente em regiões onde o manejo eficiente de água é crucial para a produtividade. Com tecnologias projetadas para otimizar o uso de recursos hídricos e aumentar o rendimento das lavouras, a Netafim está presente em grandes fazendas brasileiras de soja, milho, cana-de-açúcar e frutas, vendendo tecnologias que ajudam a manter a competitividade do agronegócio nacional em um mercado global exigente. Caso o Brasil venha cortar relações diplomáticas e comerciais com Israel, esse setor poderia sofrer um impacto significativo, já que as tecnologias fornecidas pela Netafim ainda não encontram substitutos à altura no mercado nacional ou de outros parceiros comerciais, fora toda a infraestrutura já em atividade da empresa, o que demanda constante manutenção. Sem o suporte técnico e os equipamentos de irrigação avançados da Netafim, o agronegócio brasileiro enfrentaria uma queda na produtividade e um aumento nos custos operacionais, comprometendo a posição do Brasil como um dos maiores exportadores agrícolas do mundo e ameaçando a segurança alimentar interna e as exportações agrícolas. Além da irrigação, o Brasil também depende de tecnologias israelenses em biotecnologia e manejo de solos, cruciais para a expansão agrícola. Empresas como Adama Agricultural Solutions e Evogene fornecem insumos e soluções biotecnológicas para melhorar a qualidade e a resistência das lavouras brasileiras. Sem essas parcerias, a produtividade agrícola do Brasil poderia sofrer perdas substanciais, o que reforça a dependência econômica do país em relação ao capital e à tecnologia israelense.

Segurança e defesa: Para entender a profundidade da influência de Israel na segurança pública e defesa do Brasil, é essencial observar como tecnologias e sistemas israelenses foram integrados em várias esferas críticas desse setor. Israel se consolidou como um dos maiores fornecedores de tecnologia militar e de segurança para o Brasil, dominando áreas como vigilância, controle de fronteiras, cibersegurança, equipamentos de defesa e cibernética. Entre as empresas israelenses com forte presença no Brasil, destaca-se a Elbit Systems, uma das maiores fornecedoras globais de tecnologias militares, que passou a desempenhar um papel ainda mais importante após o golpe de Estado de 2016. A dependência do Brasil em relação à tecnologia de segurança e defesa fornecida pela Elbit Systems representa um sério risco à soberania nacional, especialmente em áreas estratégicas como a Amazônia, que é alvo constante de interesses internacionais devido à sua biodiversidade e recursos naturais. A Elbit, ao fornecer tecnologias de vigilância, drones e sistemas de comunicação de alta precisão para o Brasil, está diretamente envolvida no monitoramento de fronteiras, operações de segurança urbana e proteção de território nacional. Esses sistemas são amplamente utilizados por polícias militares e forças federais para controlar manifestações, monitorar atividades suspeitas e combater o crime organizado, mas essa dependência de tecnologias estrangeiras traz perigos reais. O acesso de Israel a dados sensíveis sobre o território brasileiro, especialmente na Amazônia, confere a um Estado estrangeiro uma posição de poder inquestionável sobre informações estratégicas de segurança. A Amazônia, uma das regiões mais visadas do mundo por conta de suas riquezas naturais e posição geopolítica, tem seus dados críticos de segurança potencialmente ao alcance de interesses externos, colocando o Brasil em uma posição vulnerável em relação à sua própria defesa. Por meio dos sistemas de monitoramento e radares avançados da Elbit, que rastreiam atividades na Amazônia e no litoral brasileiro, Israel tem, na prática, acesso a informações estratégicas sobre movimentação de tropas, pontos de interesse e atividades econômicas da região. Além disso, caso houvesse qualquer tensão diplomática ou corte de relações, o Brasil estaria suscetível a perder acesso a atualizações, manutenção e suporte técnico dessas tecnologias críticas, o que poderia desestruturar a segurança em áreas como as fronteiras amazônicas, agravando a vulnerabilidade da região. Em um cenário de aumento das pressões externas sobre a Amazônia, essa dependência tecnológica coloca em risco a autonomia do Brasil sobre seu próprio território, tornando-o refém de sistemas e informações que estão, na prática, sob a influência de interesses estrangeiros. 

O rompimento de relações com Israel implicaria na perda de acesso a essas tecnologias, deixando lacunas significativas na estrutura de segurança pública e nacional do Brasil. Como essas soluções tecnológicas não possuem substitutos fáceis e acessíveis, a segurança brasileira ficaria seriamente comprometida, expondo o país a riscos de insegurança pública e potencial instabilidade, agravada pela ideologia de extrema-direita presente em parte das forças de segurança. Esse setor, já caracterizado por tensões políticas e alinhamentos ideológicos, poderia ver um aumento de instabilidade interna e insubordinações, em um cenário onde se sente "abandonado" em relação aos recursos de segurança tecnológica necessários. A crise política e institucional que culminou no golpe de 2016 trouxe profundas consequências para o desenvolvimento tecnológico e industrial do Brasil, especialmente na área de defesa. Empresas brasileiras como a Odebrecht Defense and Tecnologic e a Mectron, que estavam em processo de consolidação de tecnologias nacionais, foram diretamente impactadas. A Mectron, em particular, era uma empresa de alta tecnologia brasileira com foco no desenvolvimento de sistemas de defesa, incluindo mísseis e sistemas de radar. Contudo, com o golpe de 2016 e o enfraquecimento da política de desenvolvimento industrial nacional, a Mectron enfrentou dificuldades financeiras e acabou sendo adquirida pela Elbit Systems. A venda da Mectron para a Elbit aprofundou a dependência do Brasil em relação à tecnologia estrangeira, especificamente israelense. Antes do golpe, a Odebrecht Defesa e a Mectron estavam desenvolvendo tecnologias estratégicas que visavam reduzir a dependência externa e fortalecer a autonomia tecnológica do Brasil na defesa nacional. Com a desestruturação dessas empresas e sua subsequente venda a grupos estrangeiros, o país se viu obrigado a importar equipamentos e sistemas que antes poderiam ter sido desenvolvidos localmente. Esse processo comprometeu seriamente a capacidade brasileira de desenvolver tecnologias autônomas e ampliar sua independência no setor de defesa. A aquisição da Mectron pela Elbit consolidou o domínio israelense sobre o setor de defesa e tecnologia de segurança no Brasil, tornando o país ainda mais refém das importações tecnológicas. De fato, desde então, o Brasil depende quase que exclusivamente de sistemas de defesa de empresas estrangeiras, especialmente israelenses, para atender suas demandas de segurança nacional e pública. Caso as relações com Israel fossem cortadas, o Brasil ficaria extremamente vulnerável, pois grande parte de sua infraestrutura de segurança é mantida e atualizada por essas tecnologias israelenses. A atuação de empresas israelenses no setor de segurança privada e tecnologia da informação (TI) é outro ponto central dessa relação. Elbit Systems, uma das maiores empresas de tecnologia militar e de segurança de Israel, possui subsidiárias no Brasil, onde fornece sistemas de vigilância e monitoramento para empresas privadas e até para órgãos governamentais. Esses sistemas são amplamente utilizados na proteção de infraestruturas críticas e também no controle de áreas urbanas, oferecendo uma segurança que as empresas brasileiras, por limitações tecnológicas e baixos investimentos em tecnologia de defesa próprias, ainda não conseguem suprir internamente. No setor de TI, Israel também é um parceiro estratégico para o Brasil. A empresa Check Point Software Technologies, especializada em cibersegurança, é uma das que lideram a segurança digital de diversas empresas brasileiras. 

Relações financeiras: A presença de capital israelense e sionista no setor financeiro brasileiro é robusta e se manifesta por meio de grandes bancos, fundos de investimento e agências de capital que têm forte influência sobre setores estratégicos da economia. Dois dos maiores conglomerados de investimentos globais, BlackRock e Vanguard, são frequentemente associados a investimentos de interesse sionista. A seguir, um detalhamento sobre cada um desses players e o impacto de suas operações no Brasil. BlackRock é a maior gestora de ativos do mundo, com mais de 10 trilhões de dólares sob gestão, e tem investimentos maciços em empresas estratégicas no Brasil. Embora não seja israelense, a BlackRock tem capital fortemente associado a interesses sionistas devido a sua rede de investidores e seu apoio declarado ao Estado de Israel. O CEO da BlackRock, Larry Fink, é uma figura influente na política global e é judeu, e a empresa apoia publicamente Israel em diversos fóruns internacionais. No Brasil, a BlackRock possui investimentos significativos em setores estratégicos, como energia, infraestrutura e agroindústria. Ela detém ações em várias empresas brasileiras e tem participação em grandes grupos econômicos, o que lhe concede influência direta sobre as políticas e operações dessas empresas. Além disso, por meio de seus fundos e ETFs (fundos de índice), a BlackRock mantém controle sobre uma parcela considerável do mercado de capitais brasileiro. A influência da BlackRock é tão ampla que suas decisões de investimento têm o poder de impactar diretamente o valor das ações e a estabilidade financeira de grandes empresas brasileiras, tornando o Brasil vulnerável as movimentações e diretrizes de uma empresa cuja liderança apoia interesses sionistas. Vanguard é outro gigante do setor de investimentos, com trilhões de dólares em ativos sob sua gestão e grande poder de influência nas economias ao redor do mundo. Embora Vanguard também não seja uma instituição israelense, seu CEO é conhecido por seu alinhamento com o sionismo cristão, uma vertente que apoia o fortalecimento de Israel por convicções religiosas. A Vanguard tem participação acionária em inúmeras empresas brasileiras de setores essenciais como o de energia, mineração e alimentos, o que torna sua influência profundamente integrada à economia brasileira. No Brasil, Vanguard segue um modelo de negócios que garante poder sobre as empresas em que investe, sem necessariamente interferir em suas operações no dia a dia. No entanto, sua posição de liderança no mercado de capitais global permite à empresa exercer influência sobre políticas empresariais e decisões estratégicas, especialmente em momentos de crise econômica ou política. Essa influência, combinada ao alinhamento ideológico sionista-cristão de sua liderança, coloca o Brasil em uma situação delicada de dependência financeira, onde os interesses de um Estado estrangeiro e de ideologias externas podem influenciar indiretamente a economia nacional.

O Banco Leumi é um dos maiores bancos de Israel e possui operações no Brasil, oferecendo serviços financeiros e de investimento voltados tanto para empresas como para investidores de grande porte. A presença do Banco Leumi no Brasil reforça o papel do capital israelense no mercado financeiro nacional, criando interdependência entre as economias dos dois países. Esse banco oferece crédito e financiamento para empresas brasileiras em áreas como agronegócio, infraestrutura e tecnologia, setores nos quais Israel busca expandir sua influência. Além disso, o Banco Leumi tem papel fundamental na facilitação de parcerias entre empresas brasileiras e israelenses, especialmente em setores onde Israel possui expertise tecnológica, como cibersegurança, defesa e inovação agrícola. Essa presença no Brasil torna o Banco Leumi um ator estratégico, capaz de influenciar acordos comerciais e o direcionamento de investimentos em setores-chave, alinhando-os a interesses econômicos israelenses.

  • Setor de Energia: Tanto BlackRock quanto Vanguard têm investimentos em empresas de energia brasileiras, como a Petrobras e a Eletrobras. Esses investimentos conferem a essas instituições poder sobre um setor vital para a economia nacional e para a independência energética do Brasil.
  • Agronegócio: O capital israelense e os fundos com interesses sionistas possuem também investimentos em grandes empresas de agronegócio no Brasil. Essa participação é estratégica para Israel, que tem interesse em garantir acesso a produtos agrícolas e tecnologias avançadas de produção. Com isso, o Brasil se torna, em parte, uma extensão das necessidades alimentares e econômicas de Israel, colocando o agronegócio brasileiro sob influência indireta de investidores que atuam em nome de interesses israelenses.
  • Tecnologia e Inovação: A BlackRock e o Banco Leumi financiam diversas startups e empresas brasileiras de tecnologia, especialmente em setores como fintechs e agritech. Ao investirem em empresas tecnológicas brasileiras, esses agentes de capital israelense aumentam sua presença em um setor vital para a segurança e a independência digital do Brasil.
  • Influência Política e de Mercado: A presença dessas instituições com capital israelense no Brasil não se limita a investimentos econômicos; elas também têm influência política por meio de lobby e parcerias com líderes empresariais e políticos. A continuidade dessas relações oferece a Israel e aos interesses sionistas uma rede de apoio político-econômico que lhes permite influenciar políticas públicas e decisões de grande impacto na economia brasileira.

Essa dependência financeira e econômica reforça o poder de Israel sobre o Brasil, consolidando um quadro em que o capital estrangeiro, fortemente alinhado a interesses sionistas, se torna uma peça indispensável para setores estratégicos do país. Dessa forma, qualquer tentativa de rompimento diplomático com Israel poderia afetar diretamente o setor financeiro e gerar instabilidade em áreas essenciais da economia brasileira. A relação econômica Brasil-Israel também é impulsionada por acordos bilaterais, como o Acordo de Livre Comércio entre Israel e o Mercosul, assinado em 2007 e em vigor desde 2010. Esse acordo facilitou o fluxo de produtos entre os países e ajudou a reduzir tarifas de importação, principalmente para produtos agrícolas e industriais. Com isso, empresas israelenses tiveram mais facilidade para estabelecer negócios no Brasil, enquanto produtos brasileiros, como a carne e o café, encontraram um mercado ampliado em Israel. Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), o comércio entre Brasil e Israel registrou crescimento de mais de 40% desde a implementação do acordo, fortalecendo os laços econômicos e a interdependência entre as nações. Além disso, o Programa de Cooperação Científica e Tecnológica Brasil-Israel, firmado em 2019, incentiva o desenvolvimento conjunto em áreas como biotecnologia, nanotecnologia e tecnologias para energias renováveis. Esse programa amplia a dependência tecnológica brasileira, pois facilita o acesso a tecnologias de ponta israelenses, porém deixa o Brasil cada vez mais vulnerável à continuidade desses investimentos para manter sua competitividade e inovação tecnológica. Relatórios de comércio internacional indicam que, entre 2015 e 2020, o volume de capital israelense no Brasil cresceu substancialmente, especialmente no agronegócio e no setor de cibersegurança. O Banco Central do Brasil e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registram que o fluxo de investimento direto de Israel no Brasil se estabilizou em aproximadamente US$ 1,8 bilhão durante esses anos, com projeções de crescimento sustentadas pela expansão do setor agrícola e de TI. Esses dados revelam que, em setores essenciais, o Brasil depende diretamente dos recursos e da expertise israelense, criando um vínculo econômico que transcende as importações e exportações tradicionais, consolidando-se como uma interdependência estrutural.

Influência cultural e alinhamento ideológico: guerra cultural e crescimento neopentecostal - A relação entre o movimento cristão evangélico brasileiro e o sionismo político tem se aprofundado ao longo das últimas décadas, transformando-se em um dos mais marcantes fenômenos da atual guerra cultural no país. Esse movimento é marcado por um sincretismo religioso que aproxima o cristianismo neopentecostal do judaísmo, promovendo um apoio ideológico e político a Israel que redefine a identidade religiosa e cultural de amplas parcelas da sociedade brasileira. Esse fenômeno tem implicações profundas para a política e para como setores da sociedade enxergam o papel das esquerdas e dos governos progressistas, frequentemente taxados como “inimigos de Israel” e da “fé”. No Brasil, o movimento neopentecostal tem adotado inúmeros símbolos judaicos e referências à cultura judaica. É comum que igrejas neopentecostais utilizem elementos como a estrela de Davi, menorás, bandeiras de Israel e até mesmo shofares (instrumentos de sopro tradicionais judaicos) em suas cerimônias, reforçando uma identificação com Israel como “terra sagrada”. Além disso, em diversas igrejas, é comum que líderes religiosos incentivem os fiéis a realizarem "peregrinações" para Israel, apresentando o país como o ponto de encontro espiritual e a nação “abençoada por Deus”. Esse sincretismo cria uma base emocional e simbólica que legitima uma relação íntima e incondicional com Israel, fortalecendo o apoio político que essas igrejas conferem ao sionismo. Assim como nos Estados Unidos, onde o sionismo político e religioso encontra um apoio sólido entre cristãos evangélicos, no Brasil, o movimento neopentecostal também se tornou um defensor entusiástico de Israel. Nos EUA, essa aliança entre evangélicos e Israel é consolidada por uma retórica de “destino manifesto” e “promessa divina” que coloca os dois países como aliados naturais. No Brasil, essa ideologia é adaptada e promovida entre os evangélicos, gerando uma identificação com o Estado de Israel como "terra santa" e uma narrativa que posiciona o Brasil como aliado espiritual e moral de Israel. Esse vínculo ideológico se reflete em práticas e discursos de apoio incondicional a Israel, frequentemente veiculados em cultos, sermões e nas mídias sociais das igrejas. Muitos líderes religiosos brasileiros utilizam suas plataformas para defender Israel e enfatizar uma aliança entre o Brasil e Israel, retratando o sionismo como uma causa sagrada e associando qualquer crítica a Israel a um posicionamento anticristão. Esse processo contribui para o enfraquecimento de ideologias de esquerda, associando-as ao que esses líderes retratam como "ameaças" à aliança religiosa entre Brasil e Israel. O sionismo vem sendo promovido entre os evangélicos brasileiros como uma estratégia consciente de guerra cultural. Esse apoio a Israel cria um ambiente onde movimentos progressistas são vistos com suspeita ou até hostilidade, e onde a identidade nacional passa a ser cada vez mais associada a uma visão religiosa alinhada ao sionismo. Vários líderes religiosos neopentecostais, como Silas Malafaia e Edir Macedo, por exemplo, defendem abertamente Israel, utilizando suas plataformas para endossar políticas pró-Israel e para incentivar que seus seguidores apoiem candidatos e partidos que se alinham a essa visão. Essa promoção do sionismo é uma parte integral da guerra cultural no Brasil, onde o apoio a Israel é vinculado a um conjunto de valores conservadores e, muitas vezes, anti esquerdistas.

Um exemplo claro da influência cultural e política do sionismo na sociedade brasileira é o surgimento do Complexo de Israel no Rio de Janeiro. Este fenômeno é fruto de um grupo criminoso, autodenominado “Complexo de Israel”, que controla o tráfico de drogas em várias comunidades do Rio de Janeiro e que adota símbolos e discursos relacionados a Israel e ao judaísmo. Essa apropriação do imaginário israelense pelo crime organizado é um reflexo de como o sincretismo religioso e o apoio ao sionismo transcenderam o âmbito das igrejas e passaram a influenciar até mesmo a criminalidade. A ideologia sionista é usada como uma forma de identidade e autoridade por essas facções, que veem em Israel um modelo de força e legitimidade. Esse fenômeno também revela uma influência indireta sobre as forças de segurança, muitas das quais são adeptas dessa identificação com Israel. A militarização da segurança pública e a adoção de práticas e tecnologias israelenses nas polícias brasileiras refletem essa tendência, ampliando o alcance da guerra cultural e gerando um cenário em que o apoio incondicional a Israel se torna um valor de ordem dentro do aparato estatal. A influência do sionismo e a sua promoção como parte da guerra cultural têm efeitos profundos na sociedade brasileira. Esse movimento altera não apenas as visões políticas, mas também as alianças eleitorais, transformando o apoio a Israel em uma das principais forças eleitorais do país. Ao criminalizar e demonizar movimentos progressistas e de esquerda, essa estratégia de guerra cultural contribui para a polarização da sociedade, reduzindo o espaço para o diálogo e reforçando uma visão conservadora e militarizada. A questão do apoio a Israel passa a ser usada como um teste de lealdade política e moral, o que estreita ainda mais a visão política e limita o espaço para uma análise crítica das relações internacionais. Esse apoio a Israel, incentivado pelo sincretismo religioso e pelo avanço do sionismo, reflete um movimento que impacta diretamente a sociedade brasileira, tanto no aspecto cultural quanto na segurança pública. Assim, a guerra cultural sionista está enraizada em setores-chave, consolidando uma base de apoio popular e redefinindo a identidade nacional em torno de uma aliança que influencia desde as igrejas até as forças de segurança, impactando de maneira decisiva o cenário político e ideológico do Brasil.

A interdependência Brasil-Israel: As relações entre Brasil e Israel transcendem a mera diplomacia; elas se entrelaçam em uma teia complexa que abrange segurança nacional, economia e aspectos culturais. Os investimentos israelenses em setores estratégicos, como segurança pública, tecnologia e agroindústria, ilustram como a interdependência é profunda e multifacetada. Um eventual corte desses laços não apenas colocaria em risco acordos comerciais e parcerias tecnológicas, mas também ameaçaria a estabilidade das forças de segurança, cuja modernização e eficiência muitas vezes dependem da tecnologia israelense. Em um cenário global onde diversos países enfrentam dilemas semelhantes sobre suas relações com Israel, o Brasil se encontra em uma encruzilhada política significativa. O governo do presidente Lula é pressionado pela base de apoio progressista a romper relações com Israel, em um contexto onde as elites e setores econômicos vêem essa possibilidade como uma oportunidade para mais uma vez ameaçar à estabilidade e ao desenvolvimento do país. Essa situação é ainda mais complexa considerando que o atual embaixador de Israel no Brasil se posiciona como um defensor da extrema-direita e apoia abertamente o bolsonarismo. Essa dinâmica sugere que uma ruptura abrupta poderia não apenas agravar as tensões internas, mas também abrir espaço para uma nova onda de desestabilização do governo progressista, uma vez que Israel poderia retaliar com esforços de deslegitimação e influência. A continuidade da relação entre Brasil e Israel deve ser considerada com uma análise estratégica profunda, levando em conta não apenas os fatores ideológicos e os interesses econômicos, mas também as implicações de segurança e os impactos culturais, no campo eleitoral, dessa interdependência. As relações internacionais, em seu ethos, são essencialmente pragmáticas, buscando sempre o equilíbrio entre boas relações e os interesses soberanos dos Estados. Nesse contexto, é fundamental compreender as relações internacionais como um campo de atuação onde cada interação é moldada por interesses variados, que vão desde questões econômicas até preocupações de segurança e estabilidade. Um olhar pragmático considera não apenas os benefícios imediatos de uma cooperação, mas também as implicações a longo prazo de uma ruptura, avaliando como as ações de um país podem afetar sua posição no cenário global. A quebra de cooperação, portanto, deve ser analisada de forma crítica, levando em conta todos os detalhes da relação envolvida, como a interdependência econômica e a segurança nacional. Essa abordagem permite que os Estados naveguem por um cenário complexo e volátil, onde decisões unilaterais podem desencadear consequências indesejadas, comprometendo não apenas a relação específica em questão, mas também o ambiente internacional mais amplo. A sociedade brasileira deve refletir sobre os riscos envolvidos nessa potencial ruptura: quais seriam as consequências para a segurança nacional, para as políticas públicas e para a coesão social? A pergunta que fica é: estamos dispostos a arriscar a estabilidade do Brasil e a segurança das nossas instituições em nome de uma ideologia que, embora compartilhe um elo histórico com algumas correntes religiosas e políticas, pode, ao mesmo tempo, desestabilizar e polarizar nossa sociedade? Essa reflexão se torna ainda mais crucial em um momento em que as tensões sociais e políticas se intensificam e as divisões se acentuam.

Diante da análise profunda das relações Brasil-Israel, é evidente que a dependência tecnológica e econômica do Brasil em relação a Israel e a outros atores internacionais representa um desafio significativo para a soberania nacional. A necessidade urgente de desenvolver tecnologias que garantam maior autonomia ao Brasil é um imperativo que não pode ser ignorado, especialmente em um cenário onde a interdependência cria vulnerabilidades. O presidente Lula tem se esforçado para implementar um projeto de desenvolvimento industrial e econômico que visa fortalecer a base tecnológica do país, promovendo inovações que permitam ao Brasil não apenas competir no mercado global, mas também reduzir sua dependência de fornecedores estrangeiros. Entretanto, essa empreitada enfrenta resistência significativa, tanto de setores do ocidente, que historicamente têm interesse em manter o Brasil em uma posição subserviente, quanto de pressões específicas ligadas a interesses de Israel, frequentemente mediadas pelos Estados Unidos. Essa dinâmica cria um ambiente desafiador para a construção de um futuro sustentável e independente, colocando em risco não apenas o progresso econômico, mas também a integridade das políticas sociais e de desenvolvimento. A promoção de um projeto nacional que priorize a inovação, a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias autônomas é crucial para assegurar que o Brasil possa não apenas se defender de pressões externas, mas também estabelecer um papel mais proativo e respeitado no cenário internacional. No entanto, a concretização desse projeto requer um alinhamento estratégico que considere as implicações das relações internacionais e a importância de se construir parcerias que fortaleçam a soberania nacional, sem abrir mão da autonomia em setores vitais para o desenvolvimento do país. Portanto, a sociedade brasileira deve refletir sobre os riscos associados à continuidade de uma dependência que limita o potencial do Brasil, e a necessidade de um esforço conjunto para garantir um futuro onde o país possa trilhar seu próprio caminho de desenvolvimento, livre de influências externas que buscam desestabilizá-lo.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

Jornalista e diretor executivo da Rede Conecta de Inteligência Artificial e Educação Científica e Midiática (UFF/CNPq), onde desenvolve estudos sobre comunicação política e científica, sob a perspectiva da qualidade da informação

Reynaldo José Aragon Gonçalves

Jornalista e diretor executivo da Rede Conecta de Inteligência Artificial e Educação Científica e Midiática (UFF/CNPq), onde desenvolve estudos sobre comunicação política e científica, sob a perspectiva da qualidade da informação


FONTE: Brasil 247 (brasil247.com)

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