Retórica anti-imigração do presidente eleito passou da proposta de construção do muro à deportação em massa de “genes ruins”
Publicado 07/11/2024 12:41 | Editado 07/11/2024 17:22
A confirmação do retorno do bilionário Donald Trump à Casa Branca, reeleito nesta terça (5), colocará em risco a segurança de 11 milhões de imigrantes sem documentação legal para residência nos Estados Unidos. Chancelado por 72,6 milhões de votos, o empresário sacramentou sua vitória eleitoral através de uma campanha com tom racista, pautada na falsa relação entre imigração ilegal e a perda do poder de compra da população.
Na campanha presidencial americana de 2016, quando a ascensão de um magnata excêntrico nos EUA parecia ser um devaneio coletivo, o republicano já tinha o tema imigração como plataforma política, mas com menos organização do que foi visto neste ano.
Na sua estreia na política, Trump e a sua militância entoaram na campanha a palavra de ordem “Construa o Muro” (Build That Wall, em inglês), uma promessa para impedir a travessia ilegal com a fronteira no México. Ainda que um slogan agressivo, a incipiente retórica anti-imigração trumpista naquele momento já pode ser considerada amena, se comparada ao que se tornou a corrida presidencial em 2024.
Neste ano, a campanha avançou na lógica anti-imigração e cartazes pedindo “Deportação em Massa” (Mass Deportation, em inglês) eram vistos ao lado de outros “Paz através da Força” (Peace Through Strength, em inglês).
“Os Estados Unidos são conhecidos em todo o mundo como país ocupado. Estamos sendo ocupados por uma força criminosa”, afirmou em discurso em Aurora, no estado do Colorado, um dos poucos Estados que a Kamala Harris venceu. “Mas prometo a vocês: 5 de novembro de 2024 será o dia da libertação nos Estados Unidos”, ameaçou.
“Enviarei ao Congresso um projeto de lei para proibir todas as cidades-santuário”, disse se referindo aos locais que protegem os imigrantes da expulsão. “Iniciaremos a maior operação de deportação da história americana”, prometeu em discurso.
Na sua plataforma eleitoral, Trump promete encurtar os processos de deportação, realizando as expulsões sem a realização de audiências, exigidas por lei atualmente. O empresário também promete mais investimentos federais em forças policiais locais e o uso da Guarda Nacional para auxiliar nas operações.
Trump também quer usar o exército para auxiliar nas operações de repressão a imigração ilegal. As tropas federais no exterior rumariam para a fronteira sul do país, que dá acesso à América Latina, onde os militares teriam autorização para prender imigrantes.
O emprego dos militares e da Guarda Nacional em operações internas nos EUA, no entanto, é vedado pela Constituição do país.
Segundo a lei americana, Trump violaria os direitos do Devido Processo Legal (Due Process Law, em inglês). A Constituição dos EUA garante que “nenhuma pessoa […] será privada da vida, liberdade ou propriedade, sem o devido processo legal” (5ª Emenda). Deportações em massa e rápidas podem resultar em violação desse direito fundamental, especialmente se os imigrantes não tiverem oportunidade de contestar sua deportação em tribunais de imigração, o que é exigido por lei.
Outra promessa de campanha de Trump planeja invadir locais de trabalho para identificar e prender imigrantes ilegais. A estratégia desestimularia indústrias a contratarem essa mão de obra, beneficiando trabalhadores americanos, segundo a teoria da extrema direita. A medida, porém, afetaria economias locais e resultariam em caos social, com a separação de famílias e piora da vulnerabilidade de populações inteiras de imigrantes.
Declarações racistas aglutinaram a militância supremacista
Logo após o fim do seu mandato, Trump se viu imerso em uma série de denúncias e processos por leque de crimes que iam desde a tentativa de golpe de estado no 6 de janeiro, até mesmo tentativa de suborno e falsificação de documentos. Para tentar aglutinar o núcleo duro da sua militância e recuperar protagonismo político, o bilionário lançou uma série de declarações racistas.
Em 2017, em seu primeiro ano à frente da Casa Branca, o líder da extrema direita afirmou que havia pessoas boas dos dois lados do confronto entre supremacistas brancos e manifestantes antirracistas. Na época, a manifestação “Unite the Right” (Unir a Direita) desfilava em Charlotesville contra a remoção do monumento do confederado Robert E. Lee, símbolo da defesa da escravidão e do racismo na guerra civil americana.
Em dezembro de 2023, fora da Casa Branca e atolado de processos criminais que colocavam sua candidatura em risco, o republicano afirmou que imigrantes estão “envenenando o sangue do nosso país”.
“Eles [democratas] deixaram entrar 15, 16 milhões de pessoas em nosso país. Eles estão envenenando o sangue do nosso país”, disse Trump à multidão num comício em New Hampshire.
Já em 2024, em plena campanha, Imigrantes irregulares cometem assassinatos porque têm “genes ruins”. “Como podem permitir que pessoas entrem por uma fronteira aberta, das quais 13 mil eram assassinos”, disse Trump em entrevista para o comentarista conservador Hugh Hewitt, ao discutir as políticas de imigração de sua adversária democrata.
“Muitos deles mataram muito mais de uma pessoa e agora estão felizes vivendo nos Estados Unidos. Você sabe, um assassino, eu acredito nisso, está nos genes dele. E nós temos muitos genes ruins em nosso país agora.”
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