Este momento histórico traz consigo grandes expectativas e responsabilidades, especialmente no que diz respeito à gestão de conflitos que ameaçam a paz e a estabilidade em diferentes partes do continente, como a crise na República Democrática do Congo (RDC) e o terrorismo que assola a província de Cabo Delgado, em Moçambique.
A liderança de Angola na UA chega em um período marcado por desafios de segurança complexos. O Leste da RDC continua a ser um foco de instabilidade, com a presença de dezenas de grupos armados que exploram recursos naturais e perpetuam um ciclo de violência que já dura décadas. As tensões na região não apenas afectam a RDC, mas também têm repercussões directas nos países vizinhos, incluindo Angola, que compartilha uma extensa fronteira com o território congolês. Essa proximidade geográfica confere a Angola uma responsabilidade particular no que diz respeito à busca por soluções duradouras para o conflito.
Angola já demonstrou, em diversas ocasiões, a sua capacidade de mediar processos de paz e facilitar o diálogo político em situações de crise. A experiência adquirida pelo país nas negociações de cessar-fogo e na estabilização da região dos Grandes Lagos coloca-o em uma posição privilegiada para liderar esforços de pacificação no continente africano. Durante a sua presidência na UA, Angola poderá reforçar iniciativas que busquem desarmar grupos rebeldes, garantir a reintegração de ex-combatentes e promover o desenvolvimento económico em regiões afectadas por conflitos, contribuindo assim para a estabilização da RDC e de outros países vulneráveis.
Outro ponto de atenção para Angola durante a sua presidência será a situação de segurança em Moçambique. Desde 2017, o Norte do país, particularmente a província de Cabo Delgado, tem sido alvo de ataques de grupos terroristas ligados ao autoproclamado Estado Islâmico. Esse conflito já resultou na morte de milhares de pessoas e no deslocamento forçado de mais de um milhão de cidadãos, além de comprometer importantes projectos de exploração de gás natural que poderiam impulsionar o desenvolvimento económico moçambicano. O terrorismo em Cabo Delgado é um problema que transcende às fronteiras de Moçambique, representando uma ameaça regional que exige uma resposta colectiva dos países africanos.
Angola, como um dos líderes da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), já participou de operações militares conjuntas para apoiar Moçambique na luta contra os insurgentes. No entanto, a solução para a crise em Cabo Delgado vai além da intervenção militar. Será necessário um esforço conjunto para abordar as causas profundas do conflito, como a pobreza, a exclusão social e a falta de oportunidades económicas para as comunidades locais. Durante a sua presidência na UA, Angola poderá desempenhar um papel fundamental na coordenação de esforços diplomáticos e no apoio a estratégias que promovam o desenvolvimento sustentável e a inclusão social como ferramentas para combater o extremismo.
A presidência de Angola na UA também será uma oportunidade para reforçar a cooperação entre os Estados africanos no combate à criminalidade transnacional, como o tráfico de armas que alimenta muitos conflitos no continente. Além disso, Angola poderá promover o fortalecimento das instituições de segurança africanas, como a Força Africana de Prontidão, garantindo que o continente esteja bem preparado para responder a crises de segurança de forma rápida e eficaz.
Entretanto, é importante reconhecer que Angola enfrentará desafios significativos ao longo da sua presidência na UA. A União Africana continua a depender fortemente de financiamento externo para implementar as suas políticas, o que limita a autonomia do continente na resolução de seus próprios problemas. Além disso, a interferência de potências estrangeiras em conflitos africanos pode complicar os esforços diplomáticos liderados por Angola. Será fundamental que o país, durante a sua presidência, promova uma abordagem africana para a resolução de conflitos, baseada em soluções locais e sustentáveis.
O contexto internacional também trará desafios adicionais. Em um mundo cada vez mais multipolar, as disputas geopolíticas entre grandes potências podem ter implicações directas nos conflitos africanos. Angola, que mantém boas relações diplomáticas com diferentes blocos de poder, terá a responsabilidade de garantir que os interesses
FONTE:
Jornal de Angola (jornaldeangola.ao)