A pergunta que fica é: de qual lado você está? Do lado do grito ou do lado da mediação?
3 minutos de leitura08.05.2025 21:16A escolha do Papa Leão XIV foi rapidamente rotulada por parte do público: Papa isentão. O motivo? Ele é um nome que, antes mesmo de chegar ao posto máximo da Igreja Católica, já era conhecido por construir pontes em vez de muros. Como cardeal, era respeitado por conseguir conversar tanto com progressistas quanto com conservadores dentro da Igreja. E o lema espicopal que escolheu como Papa resume bem sua postura:“In Illo uno unum”, palavras de Santo Agostinho comentando o Salmo 127 que significam “embora sejamos muitos, no único Cristo somos um”.
Mas aí começa o chilique. Aparecem os superficiais de sempre, repetindo que na Bíblia está escrito que o morno será vomitado, há que se escolher entre quente e frio. E aparecem também os ateus teólogos, formados na universidade das redes sociais. E, claro, surgem os Zé Cruzadinha. Aquele tipo que entrou ontem na Igreja, mas já quer ensinar o Papa a ser católico. Vai para as redes sociais dar aula de doutrina como se o único católico verdadeiro fosse ele.
Só que a escolha do Papa Leão XIV aponta para algo mais profundo. Talvez a nossa leitura atual de polarização esteja errada. Talvez a divisão central da sociedade não seja entre esquerda e direita, entre conservadores e progressistas. Essas forças sempre existiram e, em alguma medida, sempre se equilibraram. O que vivemos hoje é outra coisa.
A verdadeira polarização é entre intolerantes e mediadores. E isso vale para todos os campos da vida social, inclusive para a religião. O intolerante é o sujeito que quer tudo do jeito dele. É aquele que não aceita opinião contrária, que aniquila adversários, que fecha os olhos para qualquer perversidade vinda do seu próprio lado. Você conhece alguém assim. Estão em todos os espectros políticos. É gente virulenta, teatral, sonsa e que só vê problema do lado oposto.
Do outro lado está o mediador. O que entende que existem regras. O que acredita que diferentes ideias devem conviver. O que tenta promover o respeito mesmo quando tem posições firmes. O que procura manter a civilidade mesmo diante do conflito. O que reconhece que todos somos humanos e que a única forma de coexistir é criando espaços onde as diferenças não sejam anuladas, mas respeitadas.
Leão XIV não está ignorando os conflitos do mundo atual. Está oferecendo um caminho. Ele entende que o papel da Igreja e de qualquer liderança real é promover convivência, e não alimentar trincheiras. O catolicismo, com dois mil anos de história, sabe muito bem o que é lidar com forças opostas. E escolheu, nesse momento, um nome que simboliza o esforço de não perder o essencial no meio da gritaria.
A pergunta que fica é: de qual lado você está? Do lado do grito ou do lado da mediação? Porque nessa polarização, entre intolerantes e mediadores, fingir neutralidade é perder o senso de sobrevivência.
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