Para construir sua hegemonia, a esquerda trocou o discurso da luta de classe pelos aforismos igualitários. A solidariedade entre os grupos heterogêneos, de classes sociais distintas, tornou-se possível pelo vínculo ideológico em uma mesma consciência revolucionária contra o inimigo comum.
Na revisão original do marxismo, promovida pela nova esquerda, o conceito de classe social tornou-se quase irrelevante. Não haveria mais um sujeito revolucionário privilegiado e específico como o proletariado, mas novos sujeitos revolucionários construídos a partir da homogeneização discursiva em torno de forças conflitivas diversas e dispersas na sociedade.
É nesse contexto que se torna compreensível a cooptação dos movimentos sociais minoritários, como o movimento indigenista, ambientalista, feminista, antirracistas e de minorias sexuais. A narrativa que unifica um leque tão heterogêneo de causas é a atribuição de culpa de todas as mazelas a um inimigo comum, que vem a ser a ordem espontânea capitalista e os valores ocidentais que a sustentam.
É aí que o Islã, com seu ódio visceral à modernidade e ao Ocidente, entra como um aliado privilegiado e os muçulmanos passam a ser os novos representantes dos injustiçados na Terra.
Uma forma complementar de interpretar essa estranha aliança, denominada islamo-gauchisme (islamo-esquerdismo) pelos franceses que lhe são críticos, é remetê-la ao Congresso dos Povos do Oriente, o congresso de Baku, convocado pela Internacional Comunista, ou Comintern, um ano após sua formação, em 1920.
Nessa reunião, mais de 2 mil militantes anticoloniais, na sua maioria asiáticos e muçulmanos, discutiram as posições dos marxistas em relação ao Corão, ao sionismo, ao islamismo e ao colonialismo. No final do Congresso, que durou oito dias, aprovaram o apelo a uma “guerra santa” para a libertação dos povos do Oriente e proclamaram o advento de uma luta global pela liberdade anticolonial.
A estratégia adotada era dar…
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