ENCONTRO
João Batista de Brito
Chegou-me primeiro a tua voz. Parecia a voz do vento, mas não era. Tinha mais suavidade, mais encanto. Possivelmente desejo. Não era só som. Era música. Não tocava meus ouvidos, acariciava. E fui me entregando a essa melodia e, diferente de Ulisses, não estava preso. Estava livre e esse feitiço me moveu em direção a ti. Assim, sem pressa, sem susto, sem alarde. E nem me chamavas. Ou chamavas?
Com tua voz, veio o teu perfume, arejando minhas narinas. Achei que fosse jasmim. Não era. Ainda indistinto, era teu ser que exalava o aroma inebriante de um jardim selvagem. Embriagado, ainda imóvel, me entreguei a essa doce magia.
Só então vislumbrei tua figura, como se movendo em direção a mim. E como se por acaso, eu estava no teu caminho. Ou era eu que me movia e tu estavas no meu caminho? Não sei. Sei que tua visão me turvou a vista. Eu te via e não via mais nada, cegueira caprichosa. O mundo apagado, só tu, luminosa, reluzias. Mais que isso, brilhavas e me cegavas do resto. Sim, pois naquele instante, só duas realidades havia: tu e isso que chamo de eu.
E então te toquei. E me tocaste. Nossos corpos se saudaram e provaram que eram concretos. Percorri teu corpo com minhas mãos, como a checar se eras real. E eras. Tinhas olhos, rosto, braços, seios, um corpo inteiro a percorrer. E eu percorria. E me percorrias. Daí a pouco, não éramos dois: éramos um ser singular, ressurgido da bruta unidade primordial.
Comunhão selada com o encontro de nossas bocas, cavernas penetráveis. Saboreamos nossas línguas, com a gula de famintos. Vorazes, degustamos nossas carnes e nunca mais nos largamos. Corpos entrelaçados, em êxtase sem fim, orbitando entre galáxias, esquecidos da vida e da morte. Para sempre.
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