Pacificador na Terra-X: na segunda temporada da série de James Gunn, nazismo e trumpismo são associados

Pacificador na Terra-X: na segunda temporada da série de James Gunn, nazismo e trumpismo são associados
02/10/2025

Série Pacificador denuncia o avanço do fascismo

Segunda temporada da série de James Gunn usa a Terra-X e símbolos do nazismo para criticar o trumpismo, o autoritarismo e a normalização da exclusão nas democracias atuais.

por Thiago Modenesi

Publicado 01/10/2025 10:32 | Editado 01/10/2025 13:46

Foto: divugação/HBO Max

James Gunn é o nome por trás da nova fase da DC Comics, pertencente ao grupo de entretenimento Warner nos cinemas e streamings nos EUA. O cineasta já havia deixado sua marca no novo longa-metragem do Superman, com conteúdo claramente crítico ao avanço das fake news e do preconceito aos imigrantes meses atrás.

Agora volta a carga na segunda temporada do seriado Pacificador (Peacemaker, no original) exibido no streaming da HBO MAX trazendo o protagonista para o chamado multiverso da DC, e nele para a Terra-X, realidade em que os nazistas ganharam a Segunda Guerra Mundial. As pistas surgem sutilmente até o clímax no 6º episódio, no qual o Pacificador encontra uma pequena bandeira dos EUA com uma suástica em vez das estrelas e que a agente Adebayo (interpretada pela atriz Danielle Brooks, de Orange is The New Black e do remake de A Cor Púrupura) é perseguida pelas ruas por ser negra, ecoando a mensagem que todos os demais negros estão confinados quando escutamos o irmão do Pacificador bradando que uma havia escapado.

A série apresenta de maneira muito bem construída o preço da paz edificada sobre a égide de um regime genocida, uma paz a todo custo, sepultando e aprisionando os que não concordam com os novos governantes. Gunn afirmou que se inspirou no livro, que também já virou série, O Homem do Castelo Alto (The Man in the High Castle, de Phillip K. Dick), que nos traz um mundo distópico em que Alemanha e Japão venceram a Segunda Guerra e que os signos e comportamentos vão sendo introjetados e normalizados por toda a sociedade.

O 6º episódio de Pacificador (trailer abaixo) coroa a exibição de um mundo apresentado como perfeito desde o 1º episódio da segunda temporada da série, mas apenas assim o parece. Para a “perfeição” existir se opera a dominação e a exclusão dos considerados “diferentes”, “discordantes” ou “inferiores”, aqui se abre o debate de que ordem não é necessariamente justiça ou igualdade, mas sim a opressão e supressão de tudo e todos que dela divergem, isso não se dá só pela aparência, com a exclusão dos negros, LGBTQIA+ e outros, mas também com a opressão e supressão de qualquer ideologia distinta da oficial, não foi à toa que o porta voz do governo Trump declarou esse semana ter acabado com o “lixo ideológico” nos EUA. Gunn confirmou que o seriado se propõe a uma critica ao governo de Donald Trump e suas políticas de exclusão e totalitarismo.

Aqui se constrói a conexão entre a ficção e o mundo real em que estamos imersos, o dilema cultural trazido na série não é apenas um subterfúgio narrativo, mas entrega um debate terrivelmente atual e político. A tensão que se constrói neste episódio prende a atenção do público por trazer dilemas atuais, os quais estamos vivendo neste momento nos EUA e em vários outros países pelo globo. O foco aqui é nas sociedades que aceitam perder até uma parte dos seus direitos se isso construir uma ilusória estabilidade e os riscos que isso nos traz.

O recuo dos direitos e da democracia já é uma realidade em nações com a Turquia e a Hungria, outro bom exemplo é o povo que resiste nas ruas da Argentina com grandes manifestações para garantir que a “ordem” que tenta ser aplicada por Javier Milei não solape mais direitos e não corte mais recursos dos deficientes e das universidades.

O Pacificador se junta ao novo filme do Superman, a série South Park e a várias outras produções da cultura pop no formato de histórias em quadrinhos nas quais os telespectadores e leitores encontram ali na ficção temas que são debates reais da nossa época. O personagem acaba por ter que tomar uma decisão crucial ao fim do episódio, já que perante regimes autoritários não cabe neutralidade e que com fascismo não se convive ou negocia. Não há paz no fascismo e no totalitarismo, conclui o herói.

A série acerta ao mostrar como esse processo pode ser sutil, lento, gradual, corroendo as estruturas do Estado e das democracias atuais e liberais, o protagonista passa 6 episódios neste universo e só percebe que não há sequer um negro presente quando a agente Emília Harcourt (interpretada pela atriz Jeniffer Holland, de Esquadrão Suicida) questiona o herói se ele não havia notado isso antes.

A defesa das estruturas do Estado democrático de Direito, dos mecanismos de freios e contrapesos, do cumprimento das Leis e do respeito a diversidade e pluralidade de ideias em todos os campos possíveis se torna algo estratégico na luta contra a ultradireita e o fascismo hoje. E tal luta se dá em todos os campos possíveis, a arte cumpre fundamental papel nesta contenda e precisa ser apreciada, incentivada e tratada como um importante veículo para conversar com parcelas mais largas do povo.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho

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FONTE: Revista Fórum (revistaforum.com.br)

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